Presidente da República lembra que «um dos fracassos da democracia é não ter conseguido combater a pobreza»
Lisboa 12 fec 2025 (Ecclesia) – O presidente da República afirmou hoje que “um dos fracassos da democracia é não ter conseguido combater a pobreza”, lembrou a “personalidade única” de Alfredo Bruto da Costa, que “era bruto” quando tinha de defender convicções.
Na apresentação do livro de homenagem a Alfredo Bruto da Costa «Estudos sobre a pobreza e a exclusão social em Portugal», que reúne estudos sobre a pobreza em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o carácter “assertivo” do sociólogo, cuja vida o aproximou de “perceber o problema dos outros”, nomeadamente dos pobres.
“Era uma pessoa doce, mas quando se tratava de defender convicções era bruto”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
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A sessão, promovida pela Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, contou com intervenções dos coordenadores da obra, Fernando Diogo, Pedro Perista e Paula Campos Pinto, e o livro foi apresentado num diálogo de dois estudantes, Ricardo Farto, presidente do Núcleo de Estudantes de Sociologia, e Sandra Borges, mestranda em Serviço Social e Sustentabilidade, e o presidente da República, que recordou um académico e cidadão “inteligente, brilhante, assertivo”, que “ia direto às raízes de problemas”
“Achava que a realidade era tão dura que conversa mole era perda de tempo”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa sobre um livro que é “uma grande homenagem” a um “homem excecional que lutou pela liberdade em Portugal”.
Numa análise sobre a pobreza em Portugal, o presidente da República referiu-se a uma “sociedade marcada por desigualdades desde sempre”, muito mais acentuada na ditadura, que “assumia a pobreza como felicidade”, e referiu-se a um fracasso democrático, nos últimos 50 anos.
“Um dos fracassos da democracia portuguesa é não ter conseguido combater a pobreza e mostrar que a pobreza não é invencível”, afirmou.
O presidente da República valorizou “pequenos passos, setoriais ou pontuais, em áreas maiores ou menores”, que comprovaram que “era possível” alterar o quadro das desigualdades sociais.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que Portugal regista uma “percentagem brutal” de pobreza, contando com dois milhões de cidadãos, tendo em conta as ajudas sociais, número que sobre para os três milhões, caso não se considerem os apoios sociais.
“Numa sociedade em que há dois milhões que são cidadãos de segunda classe, não há crescimento sustentável”, afirmou.
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Marcelo Rebelo de Sousa valorizou o facto da obra hoje apresentada ir “ao pormenor, área por área”, analisando o problema da pobreza nas crianças, na situação da mulher, das pessoas com a deficiência, por exemplo, para explicar que, para além da pobreza genérica, “há situações mais graves”.
Para Fernando Diogo, um dos coordenadores da obra, para além do “primeiro objetivo” de homenagear “a vida e obra do professor Bruto da Costa”, o livro hoje apresentado “traz um conjunto de trabalhos” que vão ajudar “a formar gerações de alunos, os primeiros para ajudar a combater a pobreza de uma forma mais eficaz”, rejeitando “soluções genéricas de baixo impacto”
“Eu costumo dizer aos responsáveis políticos que se nós acantonarmos o combate à pobreza na segurança social, que é a tendência normal de fazer, esse combate estará à partida perdido”, disse o professor da Universidade dos Açores à Agência ECCLESIA.
“Precisamos de facto ter um combate à pobreza que passe pela organização do Estado, nomeadamente por medidas na área da educação, na saúde e na conciliação de trabalho de família, para além das prestações sociais”.
Carlos Farinha Rodrigues, que integrou a comissão responsável pela elaboração da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza em Portugal, entre 2019 e 2021, sublinhou que “o principal problema do combate à pobreza é haver vontade política para, efetivamente, implementar uma estratégia de erradicação da pobreza em Portugal”.
Farinha Rodrigues afirma que a elaboração da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza em Portugal gerou um “aspeto muito positivo”, por ter posto “diferentes organismos da administração pública, das instituições sociais, a falar entre si”.
“Agora, muito falta a fazer”, afirma em declarações à Agência ECCLESIA.
“É preciso levar para o terreno uma estratégia. E isso implica, essencialmente, que haja vontade política para o fazer”, sublinhou.
Bruto da Costa faleceu a 11 de novembro de 2016, com 78 anos de idade; antigo ministro dos Assuntos Sociais, em 1979, foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, presidente do Conselho Económico e Social e conselheiro de Estado. Alfredo Bruto da Costa foi professor universitário e promoveu estudos pioneiros sobre a pobreza em Portugal, em defesa da dignidade humana e da justiça social, assumindo-se como estudioso da Doutrina Social da Igreja. Em outubro de 2021, a título póstumo, o presidente da República Portuguesa homenageou Alfredo Bruto da Costa com o título da Ordem da Liberdade. A distinção foi entregue por Marcelo Rebelo de Sousa à família do sociólogo, na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por ocasião da apresentação do livro “«Que fizeste do teu irmão?» Um olhar de fé sobre a pobreza no mundo”, pela Cáritas Portuguesa e o Fórum Abel Varzim, escrito pelo sociólogo e revisto posteriormente. A Ordem da Liberdade é uma ordem honorífica portuguesa, criada a 4 de outubro de 1976, que se destina a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do Homem e à causa da liberdade. |
PR