Brinquedo caro

Vão chegando, em tons diferentes, novos sinais de solidariedade para com as regiões da Ásia recentemente feridas. Mesmo com a emoção mais serenada e o coração já marcado por novos acontecimentos. Com iniciativas conscientes e verdadeiramente amadurecidas – as pessoas atingidas estão muito longe de nós e só por vaga referência lhes conhecemos a cultura e o rosto – anotamos uma nova aproximação ao distante, pela razão simples e linear de se tratar de pessoas, seres humanos, independentemente da raça, religião ou cor. Homens e mulheres que viram decepados tantos sonhos, que testemunharam a derrocada de terra e mar, com a impotência de leve pena tresloucadamente agitada pelo vento. Continuam as reflexões de fundo, oriundas das mais diferentes instâncias, desde os laboratórios da geofísica aos claustros e bibliotecas dos mosteiros onde se pensa a vida para além do imediato nas suas causas e consequências. E quando tudo isso se conjuga com as descobertas de Titã e o lançamento do grande pássaro da Europa – o Airbus 380 – somos remetidos ao fluxo permanente do nascer e morrer, da dor e da esperança, da desconfiança nos atrevimentos da técnica e ao mesmo tempo numa irresistível coragem de sempre “renovar a face da terra”- como se invoca ao Divino Espírito.É uma dialéctica, uma tensão permanente que chora inconsolavelmente na hora de descer à terra, mas logo a seguir, com uma doce raiva e uma fé inabalável, se levanta e recomeça, respondendo ao finito com o ímpeto permanente do infinito. Olhando as ruínas da terra e questionando os céus, se decide, em pleno tempo, acreditar na eternidade e, diante da grande desolação se reanima numa nova criatura, como se estivesse à mão um novo céu e uma nova terra. Estamos sempre a aprender. E quando julgamos que já temos alguma teoria arrumada, eis que tudo recomeça. É Deus que nunca deixa de nos surpreender. Terá isto algo a ver com a campanha eleitoral em curso? (Não vale a pena dizer que ainda não começou). Claro que tem. Lembra a super-abundância de palavras e raivas eleitorais – talvez necessárias à democracia mas nunca com a reincidência com que tem sido castigado o povo português. Tanta eleição constitui um claro abuso da paciência do povo. Além de ser um brinquedo caro. António Rego

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