D. Paulo Jackson une-se a apelo dos bispos lusófonos em defesa do «Estado de Direito democrático»
Alfragide, 12 set 2025 (Ecclesia) – D. Paulo Jackson, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse hoje que o “país e as instituições saem reforçadas” do julgamento por tentativa de golpe de Estado, no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Mesmo tendo havido essa crise institucional, o país e as instituições saem reforçadas”, sustentou o arcebispo de Olinda e Recife, falando aos jornalistas no final do XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, que decorreu em Lisboa desde terça-feira.
O comunicado final destacava a “urgência” de as Igrejas dos oito países representados serem “proféticas e portadoras de esperança junto da sociedade, afirmando com clareza e coragem a verdade e a justiça, combatendo as injustiças sociais e todas as formas de pobreza, respeitando o Estado de Direito democrático”.
Questionado sobre este ponto, D. Paulo Jackson recordou que o STF concluiu esta quinta-feira o “núcleo central da tentativa de golpe militar” que aconteceu no país a 8 de janeiro de 2023, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão.
“A impressão que tenho é que as instituições saem reforçadas, bastante reforçadas desse processo. A tentativa de golpe foi frustrada, mas, infelizmente, houve atentados contra, não somente o Supremo Tribunal Federal, mas também contra o Poder executivo e contra o poder legislativo”, observou o arcebispo brasileiro.

O vice-presidente da CNBB comparou o processo no Brasil à situação nos EUA, considerando que ali “aconteceu praticamente a mesma coisa e não houve julgamento nenhum”.
“É importante que as instituições sejam reforçadas, que o estado democrático de Direito seja defendido e isso é o que a Igreja Católica tem feito no Brasil e, creio, nos outros nossos países também”.
O arcebispo de Olinda e Recife, no nordeste brasileiro, criticou ainda as tarifas impostas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que entraram em vigor no dia 6 de agosto, considerando-as “injustas e completamente não explicadas”.
“Acho que a taxação de produtos brasileiros, como retaliação ao funcionamento democrático das instituições, não é razoável”, sustentou.
D. Paulo Jackson admitiu que o Brasil vive um “processo muito grande de polarizações”.
“A Igreja Católica, por meio da Conferência Episcopal -e nós bispos, em particular, em cada uma das nossas igrejas particulares – tem feito um trabalho gigantesco para tentar mitigar ou minimizar as consequências desses processos de polarização existentes”, assinalou.
O vice-presidente da CNBB admitiu a necessidade de iniciar um “processo de reconciliação, de pacificação, respeitando as instituições, respeitando a legislação, respeitando o Estado democrático de Dieito. O
“O processo de pacificação não prescinde do respeito pela lei, mas é um processo no nível espiritual que deve envolver profundamente as nossas comunidades”, apontou.
OC
Na conferência de imprensa desta manhã, D. José Manuel Imbamba, presidente da CEAST – Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe, admitiu que as instituições nos países lusófonos estão “altamente politizadas” e permanecem “débeis”.
O arcebispo de Saurimo desejou que os políticos “saibam valorizar essas instituições, que devem estar ao serviço da cidadania”, cabendo à Igreja Católica “interpelar, chamar à consciência, para o que o Estado democrático de Direito se afirme como tal”. |