Bragança: Pintura mural única no país descoberta na capela de Santo Cristo

Painel do século XVI deve ser classificado como património de interesse público

Bragança, 12 jan 2018 (Ecclesia) – Na capela de Santo Cristo, em Picote, na Diocese de Bragança-Miranda, foi descoberto um painel de frescos considerado como único no país, alusivo à vida de S. João Batista e datado da primeira metade do século XVI.

De acordo com a diretora do Centro de Conservação e Restauro de Arte Sacra da diocese de Bragança-Miranda, este mural viu a luz do dia graças a uma intervenção de conservação e restauro no altar-mor do referido templo.

“Quando chegamos à capela para o diagnóstico do retábulo, observamos que havia uma pintura mural por detrás, apesar de não ser muito visível”, contou Lília Pereira da Silva, em declarações à Renascença.

Com quatro metros de comprimento e cinco de altura, este fresco ilustra episódios da vida de S. João Batista, narrados pelos Evangelhos, como “a visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel, o batismo de Jesus e a própria morte do profeta, que acabou decapitado.

A capela de Santo Cristo fica situada na localidade de Picote, concelho de Miranda do Douro.

Perante a importância desta descoberta, decidiu-se “desmontar o altar para saber qual a extensão do núcleo do mural”.

Joaquim Caetano, especialista nesta área, destaca um painel “cheio de cor, de vermelhos e ocres intensos e zonas decorativas com imitação do tecido da época, como brocados, de um lado e do outro, criando um certo ambiente de maior conforto, quase deslumbramento”.

A paróquia local, bem como a Diocese de Bragança-Miranda e a autarquia de Miranda do Douro já saudaram esta descoberta, que “enriquece todo o património” da região, salientou a vereadora Anabela Torrão.

O importante agora é que o trabalho de conservação e restauro permita preservar o espírito e a autenticidade desta obra.

“As coisas têm um tempo, têm uma vida. Hoje não podemos ter uma pintura com 400 anos com aspeto de ter sido feita ontem. Isto é quase um ato de iconoclasta. É desvirtuar aquilo que é a autenticidade daquela peça”, frisou Joaquim Caetano, conservador e historiador de arte.

No horizonte está já a classificação do painel e da capela de Santo Cristo “como património de interesse público”.

Algo que, de acordo com Lília Pereira da Silva, já foi manifestado por técnicos da Direção-Regional de Cultura do Norte, que visitaram o local.

Além do referido painel de frescos, os trabalhos na capela de Santo Cristo permitiram encontrar uma pedra de ara, ou seja, uma pedra benzida que se coloca no altar e sobre a qual o sacerdote faz a consagração; e uma estela funerária, objeto no qual eram efetuadas esculturas em relevo ou textos, dedicados a um ente querido já falecido.

JCP

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