Medalha e mensagem assinada pelo presidente angolano João Lourenço foram entregues na celebração dos 100 anos de vida do padre natural de Bragança

Bragança, 26 nov 2025 (Ecclesia) – O padre José Telmo Ferraz foi condecorado pelo Governo de Angola tendo sido reconhecido o seu trabalho pela “manutenção da paz e desenvolvimento” entre o povo angolano, durante os anos em que esteve em Malange.
“Padre Telmo, pelo seu papel e realce na luta, conquista e manutenção da paz, pelo desenvolvimento de Angola e harmonia entre os angolanos, no espírito de reconciliação nacional, tolerância e perdão recíproco, o Presidente da República de Angola outorga ao cidadão José Telmo Ferraz a medalha comemorativa alusiva ao 50º aniversário da independência nacional, na classe de paz e desenvolvimento”, indica uma mensagem, assinada pelo presidente da Repúblicaangolano, João Lourenço, lida durante a celebração dos 100 anos de vida do padre Temo, esta terça-feira.
A medalha foi entregue na celebração eucarística, presidida por D. Roberto Mariz, bispo auxiliar do Porto, e foi transportada por Malamba Ferraz Feitio, acolhido durante anos na Casa do Gaiato, em Malange, ajudado pelo padre Telmo.
Uma nota enviada à Agência ECCLESIA dá conta de uma angariação de fundos para a construção do Lar Daniel – Calvário de Malange, Angola, como forma de “presente de aniversário”, que vai permitir que a Casa do Gaiato acolha “crianças portadores de deficiência”.
“Trata-se de um sonho antigo dos padres da Obra da Rua em Angola, Malange e Benguela, do saudoso padre Manuel António, que está a ser projetado e que vai permitir construir uma casa no centro das aldeias Casa do Gaiato para acolher crianças em exclusão social” explica à Agência ECCLESIA o padre José Alfredo, diretor do Calvário de Beire da Obra de Rua.
Na celebração, que assinalou os 100 anos da vida do padre Telmo Ferraz, D. Roberto Mariz destacou a marca social na sua vida sacerdotal, marca que “dignifica a Igreja” e “bons seres humanos”, quando se luta “pelo bem uns dos outros” e se faz “o bem uns pelos outros”.
Após a celebração da eucaristia e do convívio com doentes e familiares durante a manhã, juntaram-se ao início da noite, num jantar de homenagem, D. Manuel Linda, bispo do Porto, em representação da diocese onde canonicamente a Obra de Rua está constituída, também D. Nuno Almeida, bispo da diocese de Bragança-Miranda, de onde o padre Telmo Ferraz é natural e onde se ordenou em 1951, e também D. José Cordeiro, arcebispo de Braga, amigo do homenageado.
Numa entrevista à Agência ECCLESIA, emitida no início de 2024, o sacerdote recordava a sua infância “natural, simples, numa vida pacata e muito caseira” na aldeia de Bruçó, no Mogadouro, na região de Trás-os-Montes.

“Foi uma coisa simples, era como as outras crianças, não foi nada de extraordinário. Era a vida da aldeia, a vida da aldeia não tinha muitas brincadeiras, brincávamos uns com os outros, mas era uma vida assim muito pacata, muito caseira, muito da aldeia”, recorda.
O seu pai “tinha uma oficina de calçado” e uma “certa influência na aldeia”; a sua mãe, “uma santa mulher”, juntamente com duas irmãs, formavam uma família respeitada na aldeia.
Com “cinco, seis, sete anos”, o padre Telmo Ferraz contava que queria ser sacerdote, tendo entrado no Seminário de Vinhais com 12 anos.
“Nem eu tinha bem a noção do que era a vocação ainda sacerdotal, não é? Eu fui indo, fui indo, fiz o curso. Quando depois comecei a paroquiar, é que comecei a tomar mais noção do que é a vocação sacerdotal. Mas fui feliz, fui feliz”, recorda.
Ordenado sacerdote em Bragança, em 1951, foi pároco nas aldeias de Genísio e Vilar Seco e depois capelão da barragem de Picote, onde desenvolveu uma “pastoral e humanitária junto dos operários”, que continuou, a partir de 1960, na barragem de Cambambe, em Angola.
Na barragem de Picote começou a acompanhar os trabalhadores, mas, assume, dava-se bem com empregados e patrões.
“Começou a haver uma amizade entre mim e eles. No fundo era quase como um ombro amigo. Era um amigo. Ajudava-os. Mas dava-me bem com todos, trabalhadores e patrões”, conta.
Em 1963, o padre Telmo fundou a Casa do Gaiato de Malanje, Angola, e dedicou-se depois à formação de jovens em risco.
“Quando a Obra de Rua resolveu ir para a África, foi um sacerdote para Benguela e fui eu para Malanje. E construímos lá a primeira aldeia dos rapazes. Quando cheguei a Luanda, comprei os livros todos em Kimbundu, para estudar. Chego à barragem, todo mundo falava português. Estava nas suas sete quintas”, explica.
“Quando via um rapaz que saía da casa do Gaiato e que se tornava uma pessoa que conseguia vingar na vida ficava satisfeito”, recorda.
Com 100 anos de vida, o padre Telmo Ferraz permanece ligado à Casa do Gaiato e reside no Calvário de Beire, local onde foi apresentado o seu mais recente livro, ‘Fui Pároco de Aldeia’, com ilustrações de Ana Cardoso e retratos de M. L. Chichorro Rodrigues.
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