D. António Montes Moreira, bispo emérito
Neste período de vagatura da nossa Diocese, agradeço o convite do estimado Monsenhor Adelino Paes, Administrador Diocesano, para presidir à Missa Crismal, celebração reservada a um Bispo. Na qualidade de Bispo Emérito, sinto-me em comunhão com a Diocese. Uma comunhão iniciada há vinte anos com a minha ordenação episcopal nesta Catedral e cimentada ao longo da caminhada eclesial percorrida convosco como Bispo Diocesano durante dez anos.
A Missa Crismal de Quinta-Feira Santa exprime de maneira peculiar a centralidade da Eucaristia em relação aos demais Sacramentos, a unidade sacramental da Diocese, a plenitude do sacerdócio episcopal e a comunhão dos presbíteros com o Bispo.
É com o óleo dos enfermos, levado desta celebração para todas as paróquias da Diocese, que os doentes são configurados na sua enfermidade com Cristo sofredor. Com o óleo dos catecúmenos são preparados e dispostos os catecúmenos para o batismo na unção pré-batismal. É com o santo crisma que os recém-batizados são ungidos na unção pós-batismal, os confirmados são marcados com o sinal da cruz e recebem o Espírito Santo e os presbíteros são ungidos para o ministério sacerdotal.
A capilaridade sacramental que flui desta celebração alimenta e unifica a vida espiritual das nossas comunidades. A vitalidade cristã da Diocese radica em larga medida na centralidade sacramental desta celebração com a consequente repercussão na vivência cristã quotidiana dos nossos fiéis. Nesta dimensão mais profunda, a Catedral constitui-se verdadeiramente como igreja-mãe da Diocese.
A Missa Crismal, que o Bispo celebra com os presbíteros, manifesta a unidade do nosso ministério sacerdotal, exercido em nome de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote de quem somos indignos representantes. Hoje, aniversário da instituição do sacerdócio ministerial por Cristo na Última Ceia, é dia privilegiado de comunhão do Presbitério diocesano à volta do Bispo.
Saúdo-vos a todos no Coração de Cristo, estimados Padres, vindos dos quatro cantos da Diocese. É também momento para agradecer a vossa dedicação ao ministério pastoral, cada vez mais empenhativo neste momento de carestia de vocações sacerdotais. A Diocese, aqui representada por esta assembleia litúrgica, associa-se a este agradecimento. Deus vos recompensará. É a Ele que servis ao servir o Povo de Deus.
Incluo nesta saudação e agradecimento os estimados sacerdotes Marianos e Salesianos que enriquecem a Diocese pela vivência do seu carisma religioso específico e também a servem com zelo pastoral no atendimento de bastantes paróquias nas zonas de Macedo de Cavaleiros e de Mirandela.
Igual saudação e agradecimento dirijo aos diáconos que ajudam os presbíteros no acompanhamento de numerosas comunidades. A sua disponibilidade permite garantir que essas comunidades, muitas delas de pequena dimensão e de população envelhecida, beneficiem do conforto semanal ou quinzenal da proclamação da Palavra de Deus e da receção da Sagrada Eucaristia.
Nesta celebração festiva de fraternidade sacerdotal, alegramo-nos com os três sacerdotes da Diocese que comemoram datas jubilares de ordenação presbiteral: 60 anos, o Cónego Américo Pereira de Lima e 25 anos, os Padres José Manuel Bento Soares e Paulo Amílcar Lourenço Pimparel.
Com eles, louvamos a Deus pela fecundidade apostólica do seu ministério. Para o Cónego Lima, de saúde fragilizada há vários anos, pedimos o conforto do Senhor na provação da doença. E rezamos pela feliz e frutuosa continuação do trabalho pastoral dos outros dois jubilados.
Recordamos ainda os quatro sacerdotes falecidos desde a Quinta-Feira Santa do ano passado: da Diocese, o Cónego José Joaquim Vaz e os Padres Alfredo Augusto da Silva e José Luís Barros Coelho e, da Congregação dos Marianos da Imaculada Conceição, o Padre Casimiro Komor.
Agradecemos o testemunho da sua vida sacerdotal. O Senhor lhes conceda a recompensa eterna, anunciada pelo profeta Isaías na primeira leitura desta celebração.
Caros Padres.
Dentro de momentos ides renovar as promessas sacerdotais que (e passo a citar à letra passos do texto litúrgico da renovação), «por amor de Cristo e da sua Igreja, aceitastes alegremente no dia da vossa ordenação»: o compromisso de celibato consagrado para «viver mais intimamente unidos a Cristo e configurar-vos com Ele»; a promessa de reverência e obediência ao Bispo; a fidelidade no ministério da pregação, na celebração da Eucaristia e das outras ações litúrgicas e no serviço do Povo de Deus «como seguidores de Cristo, sem ambicionar bens temporais, mas movidos unicamente pelo zelo das almas» para assim «permanecerdes fiéis dispensadores dos mistérios de Deus».
Fazeis esta renovação no quadro duma assembleia litúrgica. É o ambiente apropriado: perante Cristo Sacerdote de quem quereis ser ministros fiéis e perante uma representação da comunidade diocesana que desejais pastorear à luz de Cristo. Renovar os compromissos sacerdotais exprime o vosso propósito de revitalizar continuamente o modo de exercer o ministério.
Permito-me alertar para dois perigos no desempenho do ministério sacerdotal: a tentação de assumir atitudes de funcionário negligente e o risco de se converter em ator na celebração dos sacramentos particularmente da Eucaristia.
O padre não é um funcionário que termina o serviço às cinco horas da tarde e só volta a ocupar-se dele na manhã seguinte. O pastor de almas exerce o ministério a tempo inteiro e com dedicação exclusiva.
Na Eucaristia o celebrante está voltado para o povo, mas não é um ator que celebra e representa para o povo. É o presidente da comunidade que, juntamente com a oração desta, apresenta ao Senhor a sua própria oração.
Assim sendo, o vosso ministério de apóstolos será tanto mais fecundo quanto mais fiel se tornar em cada dia a vossa condição de discípulos do Senhor.
Catedral de Bragança, 14 de abril de 2022
D. António Montes Moreira, bispo emérito