Bragança-Miranda: Homilia de D. Nuno Almeida no Domingo de Páscoa

Foto: SCSBM(BLR

Hoje, ecoa em todo o mundo o feliz anúncio: «Jesus Cristo ressuscitou»; «ressuscitou verdadeiramente»! «Cristo, nossa esperança, ressuscitou!» (Sequência da Páscoa). Celebrar a Páscoa do Senhor, é, portanto, ter consciência da presença viva e interpelante de Jesus, nosso conterrâneo e contemporâneo. No caminho de Emaús, Jesus atravessa-Se como companheiro da nossa estrada, coloca-Se no nosso meio e oferece a todos os discípulos a Sua Presença, por meio da Palavra e pelo gesto da fração do Pão.

É a página do Evangelho que mais me impressiona, a que mais medito, rezo e canto, pois mais do qualquer outro texto, sinto que é Palavra de Deus para mim, para nós. Como S. Lucas só registou o nome de um dos discípulos (Cléofas) o outro posso ser eu, tu, cada um de nós.

 

A caminhar vão os discípulos de Emaús. Lamentam-se. Estão desiludidos, desencantados, tristes, traumatizados. A tristeza impede-os de ver a realidade, de ver as duas faces. Só veem a morte; não veem a ressurreição. Caminham na direção errada, fogem de Jerusalém, querendo voltar à vida de antigamente. Jesus atravessa-Se no caminho. Conversa com eles. Caminha ao lado deles. Graças à Palavra das Escrituras, que lhes vai desfiando devagarinho, começam a ver, a entender… a sentir arder-lhes o coração. E pedem para Jesus ficar. E, na mesa, reconhecem-no ao partir o Pão. E que fazem a seguir? Vão contar tudo o que se tinha passado no caminho e como reconheceram Jesus ao partir o Pão. Fixemos este verbo: contar… contar histórias, contar as maravilhas de Deus. Contar é outra forma de cantar.

Temos aqui quatro verbos importantes para nós, neste Tempo Pascal, vivido em tempo de incerteza por causa das guerras e de tantas dificuldades na Igreja …:

 

Caminhar na companhia certa: não se aliar a dois inimigos invisíveis: a tristeza e o lamento, mas dando lugar central à Palavra de Deus, que é farol dos nossos passos e luz dos nossos caminhos. Caminhar na direção justa, regressando sempre a Jerusalém, à comunidade. Não queiramos voltar ao antigamente, andar para trás. Para a frente, é que é o caminho.

 

Cantar.Quem canta seus males espanta”. O louvor é um antidepressivo fantástico. Em Tempo Pascal, precisamos de redescobrir o louvor, o canto, como exercícios de liberdade e de libertação.

 

Contar: discípulos ouviram. Contaram. Sorriram. Sentiram a capacidade contagiosa do bem repartido!… Importa, pois, não ficar “retido” no nosso canto. Contemos o que Deus tem feito por nós.

 

Compartilhar! Não desertemos de participar na comunidade cristã. Se queremos encontrar Jesus, não O procuremos mais fora de nós e da comunidade. Façamos comunidade, compartilhemos juntos as dúvidas e os medos, as alegrias e as esperanças, o Pão da Palavra e o Pão da Vida. Fora da comunidade, é difícil encontrar Jesus! Perguntemo-nos, então, por fim: Onde procuramos o Ressuscitado? Em algum acontecimento especial ou espetacular? Nas nossas emoções e sensações? Ou na comunidade cristã, aceitando o desafio de permanecer na Igreja, mesmo que esta não seja perfeita (cf. Papa Francisco, Regina Caeli, 16.4.2023)!

 

Caminhemos juntos! Conversemos, escutando e falando! Compartilhemos, comungando Cristo sempre vivo e presente no meio de nós!

Jesus está presente no meio de nós quando nos reunimos no seu amor e, como outrora aos discípulos de Emaús, Ele nos explica o sentido da Escritura e nos reparte o pão da vida” (Oração Eucarística V).

É para que Jesus seja encontrado, escutado, recebido como alimento … que existe a Igreja, presente nas dioceses e em cada paróquia. Não importa se grande ou pequena. Se vivermos o amor verdadeiro, Jesus está vivo entre nós e isto vale mais do que tudo resto que existe no mundo.

 

Em cada Domingo, vivamos esta Páscoa, no mistério da Eucaristia, onde cada família de sangue e a nossa família de fé se fazem e se refazem, nos seus laços de comunhão. Este não é o dia para uma fuga isoladora e individualista, para uma dispersão evasiva, mas o dia livre, inteiro e limpo, para o repouso maravilhado em Deus, que nos liberta o tempo e do tempo, para o darmos, na alegria do amor, à família, aos amigos, aos doentes e aos sós! Se guardarmos assim «o Domingo», também ele nos guardará o mais belo da Vida!

Precisamos de Páscoa!

Precisamos da Páscoa, assim como precisamos da Primavera depois de um Inverno tão chuvoso e longo.

Precisamos da Luz e da brisa suave do Espírito, que aqueçam e acariciem o nosso rosto e a nossa alma depois de tantos acontecimentos que porventura tenham ofuscado a vida pessoal e comunitária.

Precisamos de uma Vida nova, ressuscitada, que o tempo pascal nos traz, depois de tantos sinais de morte e de violência que continuam a afligir o nosso tempo e a nossa história.

Como Jesus ferido nas mãos, nos pés, no lado, aparece vivo, vivificando a vida dos discípulos duvidosos, das mulheres aflitas, dos apóstolos perdidos… assim, cada família e cada comunidade são abençoadas por sinais de ressurreição que brilham como estrelas no meio da escuridão da noite.

Santa e feliz Páscoa para todos!

E haja Páscoa, nos teus olhos.

E haja Páscoa, no teu coração.

E haja Páscoa, nas tuas mãos,

para dar o que sentes de mais profundo no teu coração,

para encher os olhos de lágrimas de emoção…

Feliz Páscoa, de Luz e de Paz!

 

Catedral de Bragança-Miranda, 31.03.2024

D. Nuno Almeida, bispo de Bragança-Miranda

 

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