«Não somos os primeiros a chegar, mas queremos ser os últimos a sair», é um dos lemas do grupo, salienta Hélder Pires
Bragança, 18 set 2024 (Ecclesia) – O Grupo de Emergências e Catástrofes (GEC) da Cáritas Diocesana de Bragança-Miranda está a acompanhar a “situação dramática” dos incêndios florestais no Distrito de Vila Real e na Serra do Marão, em prontidão para apoiar as populações.
“Temos estado a acompanhar a situação dramática, nomeadamente agora o incêndio do Marão e temos estado em articulação com os dois subcomandos”, disse hoje o coordenador do GEC, Hélder Pires, à Agência ECCLESIA, assegurando que estão “completamente” disponíveis, “também do ponto de vista prático e operacional”.
Um fogo em Vila Pouca de Aguiar, que começou segunda-feira, chegou ao concelho de Vila Real, no dia seguinte; no mesmo distrito transmontano, no concelho de Santa Marta de Penaguião, um incêndio atingiu a serra do Marão.
“A nossa resposta é 24 horas por dia, desde que o telemóvel esteja ligado, e que eu acorde. Nós não temos uma sala de comando, não estamos 24 horas por dia acordados, mas o nosso telemóvel está na mesa-de-cabeceira. Ainda ontem uma colega mandava uma mensagem a dizer: ‘eu vou tentar descansar, mas o telemóvel fica ligado, por favor, ligue-me se for preciso sair’, desenvolveu Hélder Pires.
O Grupo de Emergências e Catástrofes da Cáritas Diocesana de Bragança-Miranda tem 50 elementos, é constituído por voluntários, “todos têm o seu trabalho, outros são estudantes”, e conseguem “mobilizar para o terreno de imediato, até ao máximo de 20”, depois, “havendo necessidade, vão-se juntando todos os outros”.
“O modus operandi é: nós vamos lançando os alertas daquilo que está a acontecer e da possibilidade de sermos mobilizados, e as pessoas vão manifestando as suas disponibilidades para poder sair no espaço de 10, 15 minutos. Temos um grupo no WhatsApp, é a forma mais fácil, e vamos lançando os alertas do site fogos.pt, onde vamos acompanhando toda a situação”, explicou, acrescentando que, “normalmente” o ponto de saída é a sede da Cáritas diocesana onde têm o material que precisam.
O GEC da Cáritas de Bragança-Miranda presta apoio psicossocial, têm assistentes sociais e psicólogos, e evitam “a deslocação de uma equipa de psicólogos do INEM do Porto”, uma vez que os seus psicólogos fizeram a formação no âmbito da emergência e catástrofe do Instituto Nacional de Emergência Médica.
“Este apoio, nesta altura e numa situação catastrófica como esta que está a acontecer, é fundamental, manter alguém no terreno, junto das pessoas, para as apoiar na primeira hora em que veem os seus bens a arder, ou na possibilidade de isto vir a acontecer, e é sempre uma situação dramática”, acrescentou Hélder Pires.
O Grupo de Emergências e Catástrofes tem também o material necessário para “montar uma zona de concentração para cerca de 30 pessoas”, com o mínimo de condições para poderem pernoitar, cada um com a sua cama de campanha, a sua manta, que foram adquiridas pelo GEC “com o apoio de alguns municípios” da região.
A Diocese de Bragança-Miranda, que é a área territorial de atuação desta Cáritas diocesana, assenta no Distrito de Bragança, que, com a reforma da Lei de Bases da Proteção Civil, ficou dividida em duas sub-regiões: A sub-região de Trás-os-Montes, sediado em Bragança com nove concelhos, e a sub-região do Douro, sediado em Vila Real que tem “três concelhos” – Freixo de Espada à Cinta, Carrazeda de Ansiães, Torre de Moncorvo – que pertencem à diocese do nordeste português.
“O subcomando do Douro tem 19 concelhos, três deles são da nossa diocese, se o comandante Miguel me pedir para sair da minha Diocese eu não vou dizer que não, tendo em conta que a Cáritas de Vila Real, por exemplo, não tem uma resposta efetiva da emergência”, explicou Hélder Pires.
A Cáritas Portuguesa, em comunicado, informou que está a acompanhar a situação dos incêndios em Portugal, “com natural preocupação e sentido de fraternidade”, e tem “todos os meios da rede nacional” disponíveis para apoiar a “emergência nacional”.
CB/OC
O coordenador do Grupo de Emergências e Catástrofes sublinha que estão “disponíveis 24 horas por dia”, e dá como exemplo o recente fogo florestal em Vinhais, que começou em Rebordelo, no dia 2 de setembro, quando foram acionados à “meia-noite”, através do comando sub-regional de Trás-os-Montes, porque “um incêndio de grandes dimensões dirigia-se para uma das aldeias”. Neste contexto, foi necessário colocar em local seguro cerca de 70 pessoas de Nuzedo de Baixo, após ter sido ativado o plano ‘Aldeia Segura Pessoas Seguras’, que, neste caso, é a igreja, e, em 15 minutos, 12 voluntários do GEC deslocaram-se para a aldeia. “Com a equipa de psicólogos estivemos com as pessoas na aldeia quase toda a noite, porque as pessoas não se queriam deitar, estavam na varanda, estavam assustadas, e no fundo a nossa presença ali era um bocadinho manter serenidade, íamos dando alguma voz de alento, e efetivamente só saímos do terreno quando à volta já não havia qualquer foco de incêndio, e que notámos que a população estava segura”, recordou. Na segunda noite deste incêndio no concelho de Vinhais o grupo apoiou “cerca de 10 pessoas”, de umas casas mais afastadas que tiveram também as retirar pata lugar seguro e, durante 4 ou 5 horas, prestaram “algum apoio, água, alguma comida”, e, depois, foram “levá-las a casa”, nalguns casos garantindo até que “foram tomar a medicação”. “Não somos a primeira linha da frente, aliás, uma questão dos nossos lemas é que não somos os primeiros a chegar, mas queremos ser os últimos a sair, garantir que o apoio à população é efetivo, eficaz, e que as pessoas ficam bem”, salientou Hélder Pires. O Grupo de Emergências e Catástrofes da Cáritas Diocesana de Bragança-Miranda surgiu em 2019, no ano seguinte, em 2020, com a pandemia de Covid-19 começaram a receber os briefings da Proteção Civil e integraram também a Comissão Distrital de Proteção Civil. “No fundo, fomos percebendo aquilo que era necessário e a partir daqui foi responder a uma necessidade que a sub-região e o distrito tinham relativamente a esta questão do apoio direto às populações numa situação de retirada. Não havia meios, sejam materiais, sejam humanos, para apoiar as populações, portanto, foi esta a resposta que nós quisemos oferecer à Proteção Civil”, concluiu o coordenador do GEC. |