Bragança-Miranda: Diocese revisitou história atribulada da «maior Catedral portuguesa»

Numa homenagem ao arquiteto Luís Vassalo Rosa, que deu andamento a um projeto marcado por «muitos encontros e desencontros»

Bragança, 27 mar 2017 (Ecclesia) – A Diocese de Bragança-Miranda homenageou o arquiteto Luís Vassalo Rosa, responsável pelo projeto e pela obra da catedral local.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o bispo de Bragança-Miranda realçou a importância desta iniciativa para “reler a história recente da diocese e sobretudo o que diz respeito a esta última tentativa, concretizada, da construção” daquela que é hoje “a maior Catedral portuguesa”.

D. José Cordeiro recordou que a construção do edifício envolveu “muitos encontros e até desencontros”.

Nesse sentido, considerou muito importante” um evento deste género, que espera marque “o início” de um conjunto de “conversas” à volta da catedral e mesmo de um trabalho mais aprofundado acerca da sua história.

“Gostaríamos de traduzir este registo em livro, para que fique para memória futura”, salientou o prelado.

O sonho de erguer uma nova catedral em Bragança remonta a 1768, data em que o então bispo local, D. Frei Aleixo, enviou uma carta ao Marquês de Pombal dando conta da vontade em construir uma nova Sé, isto já depois da transferência da sede diocesana de Miranda para Bragança.

Desde essa data, uma série de contratempos, como mudanças na liderança da diocese, falta de verbas e desacordos ao nível da adjudicação da obra, levaram a que o projeto fosse ficando adiado.

Até que a partir de meados do século passado, a obra passou a ver finalmente uma luz ao fundo do túnel, através do Movimento de Renovação da Arte Religiosa, que criou as condições para o lançamento de um concurso nacional para a construção da catedral.

Entre 11 projetos admitidos, em 1963, foi escolhido um elaborado por uma equipa constituída pelos arquitetos Luís Gonçalo Vassalo Rosa e Francisco Figueira, pelo escultor António Alfredo, pelo engenheiro Eduardo Zúquete e ainda pelo padre Albino Cleto, como consultor litúrgico.

No entanto, a edificação da catedral só iria ganhar forma em 1982, com o lançamento da primeira pedra, e em 1988, com o início oficial das obras, depois de mais uma série de adiamentos, relacionados sobretudo com a configuração e a estrutura do projeto.

“Foram necessários 15 anos para que se desse esse recomeço, num diálogo com os artistas locais”, realça D. José Cordeiro, recordando que a catedral conta hoje com contributos de figuras como o ceramista Mário Ferreira da Silva, o mestre vidreiro José Rodrigues e a pintora Ilda David, que contribuíram para que este monumento possa também “evangelizar pela beleza”.

“A maior alegria que a Igreja pode ter é mesmo evangelizar e tem que se servir de todos os meios. E atendendo à realidade da Catedral e neste desafio do diálogo da fé, a cultura, a arte, estamos nesse caminho”, salientou.

A Catedral da Diocese de Bragança-Miranda foi dedicada a 7 de outubro de 2001, numa cerimónia presidida pelo atual bispo emérito, D. António José Rafael, que teve um papel essencial no desbloquear de todo o processo de construção.

Para Fátima Pimparel, diretora do Secretariado da Cultura da Diocese de Bragança-Miranda, é importante “não esquecer o passado”, através de iniciativas como a homenagem deste sábado, mas também é essencial colocar “os olhos no futuro” da catedral.

“O caso do painel do batistério, da Ilda David, e uma outra peça que está também a ser preparada, de Graça Morais, são exemplos disso mesmo, de como a arte pode ajudar a viver a fé, também a outras pessoas que não têm fé mas que, de alguma forma, podem ter a experiência de Deus através da arte”, completou.

HM/JCP

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