«Temos de pôr em causa a nossa maneira de ver e julgar estes homens e mulheres», frisa o padre João Torres
Braga, 20 nov 2018 (Ecclesia) – O Presépio Vivo da Paroquia de São Tiago de Priscos, na Arquidiocese de Braga, está a ser este ano construído com o apoio de seis reclusos, no âmbito de um protocolo com a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.
Em entrevista ao portal ‘Ponto J’, o pároco de Priscos salienta a importância deste género de projetos como forma de “não fechar portas”, mas dar mais “uma oportunidade” a quem errou e está a procurar reabilitação.
O padre João Torres, que trabalha na Pastoral Penitenciária da Arquidiocese de Braga, frisa que muitas vezes estas pessoas só precisam “que acreditem nelas” para deixar para trás “os gritos de desespero” que resultam de decisões mal tomadas e “que tantas vezes matam por dentro”.
“Sem uma verdadeira política de reinserção social é impensável que alguém volta à sociedade e não volte a cometer os mesmos crimes que tantas vezes os levaram à prisão”, aponta o sacerdote, para quem é preciso “pôr em causa a maneira de ver e julgar estes homens e mulheres que estão presos nos estabelecimentos prisionais do país”.
Nos últimos quatro anos, já passaram pelo projeto ‘Mais Natal Priscos’ cerca de 30 reclusos e o balanço, de acordo com o padre João Torres, tem sido muito positivo.
“Grande parte deles voltou à vida com trabalho, constituíram família ou muitos que já tinham família voltaram a sonhar e a acreditar que é possível ter uma vida diferente daquela que os levou à prisão”, realça aquele responsável.
Os reclusos que participam na elaboração no presépio vivo de Priscos, provenientes do Estabelecimento Prisional de Braga, chegam às 8h30 e trabalham até às 17h00.
“Eles têm um ordenado de 420 euros e aprendem um ofício relacionado com a área da construção civil”, acrescenta o pároco de Priscos.
Em marcha está também uma outra iniciativa, o ‘Projeto Fronteira’, relacionado com a construção de habitações para presos que não têm ninguém a quem recorrer no exterior.
“A ideia é construirmos algumas pequenas casas, onde aqueles reclusos que não têm suporte familiar quando saem da prisão aí possam ter durante algum tempo um abrigo, possam voltar a pensar em reconstruir as suas vidas, a arranjar um trabalho, a ter uma vida honesta”, explica o padre João Torres.
O ‘Projeto Fronteira’ foi um dos vencedores do Orçamento Participativo Portugal 2018 e os beneficiários vão ser sinalizados pelos técnicos da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.
De acordo com o padre João Torres, as habitações “vão ser construídas pelos reclusos que trabalham no presépio de Priscos”, em consonância com o Estabelecimento Prisional de Braga.
JCP
https://www.facebook.com/jesuitasemportugal/videos/566960600420398/?t=11