Braga: Ordenação do primeiro sacerdote cego interpela sociedade que «teima na exclusão», realça arcebispo

D. Jorge Ortiga antevê para o padre Tiago Varandas «um trabalho muito profícuo em diversas áreas»

Foto: O padre Tiago Varandas (segundo a contar da esquerda) integrou o grupo de quatro novos sacerdotes ordenados este domingo na Arquidiocese de Braga, Agência ECCLESIA/HM

Braga, 15 jul 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga presidiu este domingo à ordenação do primeiro sacerdote cego no país, o padre Tiago Varandas, e destacou a importância deste momento, enquanto desafio para a sociedade e também para a Igreja Católica.

Em declarações à Agência ECCLESIA, no âmbito da celebração que decorreu na Cripta do Santuário do Sameiro, D. Jorge Ortiga frisou que “ser a primeira ou a segunda” ordenação deste género “não interessa”, o que fica é a afirmação de que “o chamamento de Deus” é para todos, independentemente das “limitações” de cada um.

Para D. Jorge Ortiga, o acolhimento ao padre Tiago Varandas deve ser um sinal antes de mais para todos quantos, no meio da sociedade, “teimam ainda na exclusão”.

Ao mesmo tempo, deve constituir uma interpelação para a Igreja Católica, para que promova o “acolhimento de todos”.

“Para mim é também um sinal de que a Igreja vive a inclusão, não fala só da inclusão”, acrescentou aquele responsável católico.

Natural de Lamego, o padre Tiago Varandas, de 35 anos, nasceu com um glaucoma congénito que progressivamente lhe foi retirando a visão.

Esse facto não o impediu de perseguir os seus sonhos e objetivos, que primeiro passaram pelo curso de História e pela missão de professor, e mais tarde pela resposta ao chamamento para o sacerdócio.

“Se ele conseguiu fazer os seis anos de Teologia, ele que já tinha um curso superior, mas teve a vocação para seguir essa missão que Deus o chamou, claro que tem todas as condições”, considerou José Carriço, um dos familiares do novo sacerdote, que marcou presença nas ordenações.

“No fundo é um alertar de consciências, dizer que todas as pessoas, qualquer que seja a deficiência que tenham, são válidas na sociedade, como as outras”, acrescentou.

“Como ele fez um grande esforço para fazer aquilo que gostou nós decidimos, a mãe quis organizar uma excursão e nós de boa vontade viemos cá fazer-lhe uma visita para que ele se sinta confortado”, adiantou também Eusébio Monteiro Caetano, que conhece o agora padre Tiago “desde pequeno”.

Entre familiares e amigos, quando convidados a falar sobre o padre Tiago Varanda, há uma qualidade que é sempre realçada acerca do novo sacerdote: a sua força de vontade.

Algo que também foi sublinhado por D. Jorge Ortiga, que se mostrou convicto de que o padre Tiago irá “realizar um trabalho muito profícuo em diversas áreas”.

Para já, o arcebispo de Braga perspetiva para o novo sacerdote a “coordenação” de dois departamentos, “da educação cristã de adultos e das pessoas portadoras de deficiência”; também o cuidado com o “acolhimento” e do serviço à “confissão”.

“A pastoral da deficiência é um setor também muito importante e com certeza que ele encontrará as respostas mais adequadas”, sustentou D Jorge Ortiga.

Sobre a questão das acessibilidades, o arcebispo de Braga admitiu que há ainda um longo caminho a percorrer para tornar as estruturas e os monumentos católicos da região mais adequados às necessidades das pessoas portadoras de deficiência ou com maiores limitações ao nível da mobilidade.

“Em muitos lugares essas acessibilidades estão feitas, mas por exemplo na Sé de Braga ainda não conseguimos encontrar uma solução, nós com o Ministério da Cultura, para conseguirmos criar essas condições”, admitiu aquele responsável.

HM/JCP

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Agência ECCLESIA

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