Braga: Iniciativas de Cinema pastorais e locais

Prosseguindo o elevado nível de qualidade da sua programação cultural, o Auditório Vita de Braga organiza, pela segunda vez consecutiva, o Ciclo de Cinema de Verão.

Com início a 4 de julho, a proposta é, nas palavras do Padre João Paulo Brito Costa, autor do texto fundador do ciclo, a de dar, através do olhar do cinema «um contributo à reflexão em torno dos lugares nucleares de geração da identidade e da criatividade humana’.

Sob o título ‘Visões generativas do humano’ quatro dos melhores filmes que passaram em Portugal nos últimos tempos, convidam ao encontro da comunidade bracarense no magnífico espaço do claustro do Seminário Menor de Braga nas noites de sexta-feira do mês de julho: ‘Bestas do Sul Selvagem’ de Benh Zeitlin, ‘Amor’ de Michael Haneke, ‘Noiva Prometida’ de Rama Burshtein, ‘E Agora, Onde Vamos?’ de Nadine Labaki.

Iniciativas como esta são exemplares na forma como promovem uma relação saudável entre o cinema e a religião.

Longe do ruído da indústria cinematográfica e dos redutores modelos pastorais que apenas reconhecem no cinema a capacidade de ilustrar de forma episódica – quando não pobre, tantas vezes distorcida na sua génese mais profunda – a vida de santos ou de Jesus, o convite a fazer do cinema lugar teológico, sem ser catequético, e de encontro é de um louvor e de uma urgência para tantos ainda ignorada.

Num mundo dominado e, cada vez mais, exaurido de imagem e de som, com a progressiva banalização a que inevitavelmente um e outro se sujeitam, o segredo do seu impacto, sobretudo para as novas gerações, está, cada vez menos na competitividade e inovação e cada vez mais na sua capacidade de criar vínculo.

Sendo necessário num e noutro caso possuir algo mais do que um fator de atração momentânea para estabelecer uma relação duradoura com e entre pessoas

É exatamente de encontro e construção de relação que se fala quando se criam espaços e tempos como este que têm e devem ter, como a arte e a cultura em geral, um papel primordial na proposta pastoral das comunidades católicas.

Através delas se olha e se reflete o mundo que somos e o mundo que queremos ser, atendendo por um lado às nossas mais profundas inquietações e por outro levando-nos adiante.

Se se quer ser realista e verdadeiramente generoso para com o próximo, é urgente uma atitude de coração e mãos abertas, espírito arejado e olhar atento, tanto aos criadores, no caso do cinema, que registam e questionam esse nosso ser humano hoje como às inquietações dos membros das nossas comunidades.

Porque de atrativas solicitações estamos hoje, todos, autenticamente inundados, e porque elas não esperam pela iniciativa das igrejas, paróquias, movimentos ou seminários, cabe a cada um destes escolher: competir, sem grande probabilidade de sucesso e face à exiguidade de meios quando comparados com os que outros dispõem, pela via da atração volátil e efémera; ignorar a importância de uma cultura que, de qualquer forma, se constrói. Ou optar por tomar a dianteira, abrindo as portas ao encontro e à vivência artística e cultural, não passiva mas ativa, criadora de vínculo e verdadeiramente transformadora. Para quem está dentro e para quem vem de fora. Ou para que apeteça entrar e ficar a quem por ali passe, ao acaso.

Para exemplo de boa prática, sobretudo na forma simultaneamente humilde, corajosa e exigente com que leva a cabo a sua missão, aqui fica o do Auditório Vita e o das equipas de formação dos seminários maior e menor de Braga que há muito se distinguem pelo empenho da sua missão de formação, com atenção particular ao papel da arte e da cultura. Um reconhecimento que se alheia de qualquer ímpeto de ‘ribalta’ mas inteiramente merecedor.

Margarida Ataíde

 

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Agência ECCLESIA

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