Brilha o esplendor dos círios
«Deus é luz e nele não há treva alguma» declara São João na sua primeira carta (1,5). Caminhar na luz é o encanto do caminho de Páscoa.
Numa homilia pascal de um autor antigo pode ler-se: «Nesta solenidade, brilha o esplendor dos círios, sob a árvore da fé, com o fulgor que irradia da imaculada fonte batismal; nesta solenidade, desce do Céu o dom da graça que santifica os recém-nascidos e o sacramento espiritual do mistério admirável que os alimenta» e, acrescenta: «mas, pergunto, que dia é este? É o dia que nos trouxe o princípio da vida, a origem e o autor da luz, o próprio Senhor Jesus Cristo, que de Si mesmo afirma: Eu sou o dia; quem caminha de dia não tropeça; isto é, aquele que em todas as coisas segue a Cristo chegará, seguindo os seus passos, ao trono da eterna luz».
Esta é a noite que gera o dia, que sucede ao sétimo dia e o ultrapassa – o Domingo “dia da festa primordial”. A memória do passado e a profecia do futuro condensam-se na plenitude do presente, graças à presença misteriosa do Senhor entre os seus. Toda a História da salvação realiza-se no “Hoje” anual e de cada semana. Daqui nasce o acontecimento do Ano litúrgico, o próprio Jesus Cristo presente na Sua Igreja.
Eis a Luz de Cristo
Um símbolo significativo desta noite/dia é o círio pascal. A procissão recordou o longo caminho de Páscoa que o povo hebraico percorreu no deserto, guiado por uma coluna de fogo.
Nós peregrinamos no caminho pascal com Cristo, luz do mundo – lumen Christi. Assim cantamos no precónio pascal: «agora conhecemos o sinal glorioso desta coluna de cera, que uma chama de fogo acende em honra de Deus: esta chama que, ao repartir o seu esplendor, não diminui a sua luz; esta chama que se alimenta de cera, produzida pelo trabalho das abelhas, para formar este precioso luzeiro».
Nos primeiros séculos, ao Batismo dava-se o nome de iluminação e, por consequência, aos batizados o nome de iluminados.
Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou
Como lembrei na carta pastoral “Juntos no caminho de Páscoa. Levar Jesus a todos e todos a Jesus”, a Igreja é missão. A toda a Arquidiocese de Braga, na esperança de que a Palavra da Salvação seja uma semente de vida, grito hoje a nossa alegria: Jesus Cristo ressuscitou! Sim, Ele vive para sempre e também por nós. Do útero ao túmulo, acontece a grande escola da vida, onde a Páscoa acontece todos os dias.
Como nos impulsiona o imperativo missionário do jovem vestido com uma túnica branca (anjo) junto do sepulcro dado às três mulheres, que são testemunhas da morte, da sepultura e da ressurreição de Jesus, como escutámos na narrativa de Marcos (16, 1-8): «Agora ide dizer aos discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis, como vos disse».
Sentimos a necessidade de um renovado anúncio, mesmo para quem já é batizado. As mudanças culturais e eclesiais que estamos a atravessar são reais e, algumas, estão a acontecer a um ritmo acelerado, qual “radical mudança de época”. Não podemos desvalorizar o surgimento de jovens que estão a aprender a viver sem Deus e sem a Igreja.
As Paróquias devem ser casas que sabem acolher e escutar medos e esperanças, perguntas e angústias das pessoas e que sabem oferecer um corajoso testemunho e um anúncio credível da verdade, que é Cristo. O acolhimento cordial e gratuito é a condição primeira da evangelização tão antiga e sempre nova.
D. José Manuel Cordeiro, arcebispo de Braga