Sínodo, Jornadas Mundiais da Juventude, Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis e religiosidade são desafios que D. José Cordeiro recebe
Braga, 12 fev 2022 (Ecclesia) – D. Jorge Ortiga, arcebispo emérito de Braga, disse que a entrega da diocese a D. José Cordeiro acontece num momento de “renovação inadiável”, que estava a acontecer, mas que a pandemia veio “impedir a sua caminhada evolutiva”.
“A pandemia veio impedir o que podia ser uma caminhada evolutiva, renovativa e transformadora de realidades, porque algumas comunidades estão adormecidas. A fé tem de ser consciente e nascer de forma espontânea. No Minho é fácil dizer «Sou católico», «Quero batizar os meus filhos», temos a religiosidade popular católica mas falta pegar nisso tudo para tornar a fé consciente”, reconhece o arcebispo emérito de Braga à Agência ECCLESIA.
Num tempo em que a renovação está em aberto, consequência do Sínodo convocado pelo Papa Francisco, D. Jorge Ortiga aguarda por mudanças “pensadas”.
“Este trabalho sinodal pode ser uma graça, possam os grupos funcionar com a pandemia a atenuar e permitir o encontro entre as pessoas. Vir um bispo de fora, estou convencido que poderá facilitar este caminho que está a ser feito”, valoriza.
D. Jorge Ortiga fala em “grupos a funcionar”, reconhece que gostaria de ver mais em funcionamento, e que os “movimentos poderiam ter aderido mais”, auscultando “pessoas mais críticas e alheias à Igreja”, indica.
“Não me canso de dizer que o sínodo pode ser mais uma atividade, um fazer coisas, organizar reuniões com documentos sintetizados, e acabar por não dizer nada. O que é fundamental, em todos os âmbitos é a espiritualidade. É a hora da espiritualidade”, resume.
Sobre a preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, o arcebispo emérito explica que “a organização está perfeita” com grupos organizados e jovens disponíveis, e que a sua preocupação ao convidar à participação não se direciona tanto com o destino, mas com a participação em conjunto.
“Não tivemos visitas pastorais nestes dois anos, mas agora temos feito os crismas com os jovens preparados, e, para mim, é um argumento fundamental falar das JMJ e dizer que esta é uma oportunidade para se organizarem não apenas para ir a Lisboa, mas a mobilizarem-se para ir com outros jovens”, incita.
Sobre o trabalho da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis o arcebispo emérito recorda terem sido das primeiras dioceses a criar uma estrutura, com “um regulamento, com telefone disponível e divulgado” e que a equipa “reúne periodicamente”.
“Têm chegado poucos casos – um ou dois, mas há que dizer que o problema existiu sempre, e muitos não gostam que se diga, dentro e fora da Igreja, mas esta consciência da importância e da sua gravidade, agora é que se coloca mais”, explica.
A arquidiocese organiza “jornadas de formação, para clero e agentes de pastoral, onde dizemos que precisamos de comunidades sãs e seguras. Estamos a fazer trabalho estruturado, para cuidar das vítimas e também dos sacerdotes”, valoriza.
D. Jorge Ortiga tenciona ficar a residir no Seminário Conciliar de Braga, junto da Igreja que afirma amar, com um plano de “pobreza”.
“O meu plano é ser pobre mas ativo e útil para servir a Igreja”, sublinha, mantendo-se “desaparecido” e a aparecer “quando assim for solicitado” pelo novo arcebispo.
“Tenho um princípio na vida que é viver o momento presente. Estou na disponibilidade e pobreza interior muito grande. No encontro com os sacerdotes em dezembro disse que a minha intenção era desaparecer, mas à semelhança de Maria, um desaparecer presente, que aparece quando é preciso”, conta.
A D. José Cordeiro, que hoje toma posse como arcebispo de Braga, o bispo emérito pede que “não tenha medo”.
“Que não tenha medo. O trabalho poderá ser imenso, mas que não tenha medo e acredite nas pessoas. Que sinta a força do Espírito, vou rezar por isso. Asseguro a minha unidade plena, que avance, que as pessoas do Minho são boas pessoas, estão ávidas, precisam de retificar a religiosidade mas é preciso mais”, finaliza.
PR/LS