«Quando apresentamos aos jovens não uma Igreja amanteigada, mas radical, isso vai espoletar esta necessidade de querer avançar» – Padre Pedro Sousa
Lisboa, 04 nov 2022 (Ecclesia) – O padre Pedro Sousa, formador do Seminário Conciliar de Braga, apresentou o congresso internacional que a Arquidiocese local vai promover, para refletir sobre qual os modelos de formação de novos sacerdotes, em Portugal.
“O problema seria olhar para este tempo procurando reciclar propostas dadas no passado ou pior, fingir que está tudo bem. Seriam duas tentações mais fáceis, mas aquilo que é o nosso desafio é não dar às perguntas de hoje repostas que já se deram”, disse o sacerdote, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A Arquidiocese de Braga está a celebrar os 450 anos da criação do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, desde 4 de outubro de 2021, e vai realizar um congresso internacional sobre a problemática dos seminários católicos, com o tema bíblico ‘Erguendo os olhos e vendo’, uma “expressão que dá a noção de uma ação que não está completa”, entre 16 a 19 de novembro, no Auditório Vita.
“Colhendo toda a história que nos vem de Trento (Concílio), a partir dai é fundado o seminário, perceber se hoje este modelo pode ou não ser discutido e é a partir daqui que queremos lançar o desafio, poder dar novas luzes para a Igreja em Portugal, concretamente da formação dos seminários católicos”, explicou o padre Pedro Sousa.
Para além do tema geral, o congresso internacional tem uma temática concreta para cada dia, e “um leque abrangente de pensadores a nível internacional”.
Os trabalhos vão começar pelo “contexto histórico, perceber com Bartolomeu dos Mártires, que funda este seminário católico em Braga, que ideia tinha de presbítero”, mas, ainda no primeiro dia, também querem fazer “um exercício de imaginação, onde é que estes 450 anos podem levar”.
No dia seguinte, o entrevistado destaca-se a conferência de Cristina Inogês Sanz “com a pergunta acutilante ‘continuar a formar no modelo ministerial esgotado’, e perceber os contributos que a oradora pode dar a partir da realidade atual, e também com Alberto Melloni sobre “a problemática dos seminários católicos”; Andrea Grillo (professor da Universidade de Santo Anselmo – Roma) já não pode participar, por questões de saúde, mas vai enviar a intervenção “para enriquecer a reflexão”.
A comissão científica deste congresso internacional, que foi instaurada e trabalha desde o ano passado, vai apresentar um texto a partir da sua reflexão, e também vão publicar “um livro de atas” para que “esta reflexão possa ser luz para a Igreja em Portugal”, em “tempos ásperos na formação dos seminários católicos”.
“Se há 450 anos a fé cristã era normativa, hoje para uma grande parte a fé cristã é irrelevante ou pelo menos não conhecem relevância para a vida de cada um. Hoje a questão é como é que podemos formar para este tempo: o mais fácil era vamos fechar, vamos voltar ao passado, mas a que passado no meio de 450 anos? Queremos perceber que este tempo é determinante para o anúncio do Evangelho e não é mais difícil do que foi, é diferente”, desenvolveu.
Sobre as vocações, o padre Pedro Sousa, convidado do programa ECCLESIA, na RTP2, assinala que “a época da cristandade já passou, e exige testemunho”, não estão preocupados com números, mas querem “formar dentro do que é possível, melhor”, e acreditam que “a dinâmica do testemunho é essencial”.
“Não focando concretamente nos seminaristas, no contexto com outras realidades de jovens, eu acho que tudo o que lhes apresenta um ideal move-os, temos a causa ecológica. Portanto, quando apresentamos aos jovens não uma Igreja amanteigada mas radical isso vai espoletar esta necessidade de querer avançar, este fascínio pela pessoa de Jesus, que faz e torna que os jovens queiram entregar a vida por ele”, concluiu.
Desde domingo, a Igreja Católica em Portugal está a celebrar a Semana de Oração pelos Seminários com o lema ‘Não te envergonhes de dar testemunho de Cristo’, até 6 de novembro.
HM/CB/OC
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