Sacerdote fala sobre o episódio que fez pelo menos 8372 vítimas mortais, maioritariamente muçulmanas, e na aposta da reconciliação da Igreja Católica

Lisboa, 11 jul 2025 (Ecclesia) – O padre Dražen Kustura, porta-voz da Arquidiocese de Saravejo, recordou o massacre de Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina, que assinala hoje 30 anos, evocando-o como “um lugar de ódio”, mas que pode transformar-se num local de “reconciliação”.
“Srebrenica é um lembrete de quanta dor os seres humanos podem infligir uns aos outros quando estão cheios de ódio. No entanto, a situação atual do mundo e as guerras em curso mostram que é possível aprender com os erros do passado”, afirmou o sacerdote, em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) divulgadas hoje.
Para o porta-voz da Arquidiocese de Saravejo, “por muito que Srebrenica seja um lugar de ódio e de sofrimento, pode também tornar-se um lugar de reconciliação e de conversão”.
“Daqui pode irradiar uma mensagem clara: que nada de bom resulta da guerra e do crime e que, em vez disso, vale a pena lutar pela paz e pelo respeito mútuo, na diversidade e na justiça”, defendeu.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre lembra que, a 11 de julho de 1995, pelo menos 8372 homens foram assassinados pelas tropas do general sérvio-bósnio Ratko Mladic, no enclave muçulmano de Srebrenica, na Bósnia; a maioria das vítimas eram muçulmanas e tinham entre 13 e 75 anos.
Esta foi uma operação de “limpeza étnica”, com o objetivo de construir uma grande Sérvia cristã ortodoxa, à custa da população bósnia e croata da Bósnia, contextualiza a AIS.
O padre Dražen Kustura, jornalista, considera que o aniversário do massacre de Srebrenica, o mais grave ocorrido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, “é um lembrete de como o mal pode ser poderoso”.
“Recorda-nos os crimes do passado recente, de que ninguém com princípios morais sólidos se pode orgulhar. Mas da mesma forma que estes aniversários trazem à tona o passado, são também uma oportunidade para fazer justiça e condenar os crimes, enquanto se trabalha para a reconciliação”, referiu.
Após 30 anos, o sacerdote lamenta que ainda não exista “uma ideia generalizada de que todos os crimes, independentemente de quem os cometeu, devem ser condenados; que todas as vítimas têm o mesmo valor e que a dor das suas mães é igualmente profunda”.
“Por isso, em vez de uma oportunidade de expiação pessoal e coletiva, estes aniversários do genocídio de Srebrenica tornaram-se um foco de novas divisões e de reabertura de feridas do passado, tornando ainda mais difícil a reconciliação e o perdão”, indicou.
O padre Dražen Kustura explica que a Igreja Católica sempre participou nas comemorações do genocídio de Srebrenica, manifestando pesar e respeito pelas vítimas e famílias dos sobreviventes, uma vez que “quer cumprir a sua missão de reconciliação e de renovação nacional”.
Segundo o porta-voz da Arquidiocese de Saravejo, a Igreja Católica tem defendido desde sempre o diálogo, como “a única forma moralmente aceitável de resolver os desacordos”.
“Os bispos da Bósnia-Herzegovina sempre mantiveram este princípio e nunca se recusaram a encontrar-se com qualquer líder religioso. A Igreja tem seguido este caminho desde a guerra, alertando sempre para as consequências de uma paz injusta, que legitimaria a limpeza étnica”, desenvolveu.
O padre Dražen Kustura considera que o facto de as fações em guerra viverem em paz relativa paz há três décadas, de dialogarem umas com as outras, de viajarem e se encontrarem, “é um sinal de que a reconciliação é possível”.
“No entanto não devemos descurar a necessidade de justiça, ou seja, que cada indivíduo responda pelos crimes que cometeu”, alerta.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre recorda que o Tribunal Penal Internacional condenou sete dos seus autores por genocídio e que este episódio continua a dividir a região, com os sérvios a considerarem-no um crime terrível, enquanto os bósnios exigem justiça para os que foram mortos.
LJ/OC