Bons sinais

João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Participei na ordenação episcopal de D. José Traquina, novo Auxiliar do Patriarcado. Na celebração, recolhi diversos sinais – bons sinais – que hoje me permito partilhar.

Um dos primeiros diz respeito ao modo familiar como o Patriarca, D. Manuel Clemente, se dirigiu ao ordinando, tratando-o por tu: «Caríssimo D. José Traquina, é este roteiro de ascensão autêntica que tens seguido (…).Assim prosseguirás, como sucessor dos Apóstolos, ajudando-nos a todos no percurso sinodal que estamos a começar. Não te faltará o alento divino e a presença da Mãe de Cristo».

Habituados a esconder conhecimentos ou afectos em momentos solenes, embrulhando as palavras numa espécie de coreografia ensaiada, este tratamento por tu soou-me muito bem. Revela uma clara e assumida proximidade que, por certo, dará frutos no trabalho conjunto, em benefício de uma diocese a iniciar um percurso sinodal.

É certo que um Auxiliar não é uma espécie de secretário particular (com mitra) do titular que o recebe. É igualmente certo que, seguindo-se o Direito, na sua escolha tem muito peso a opção do bispo diocesano com quem vai trabalhar. Mas, sendo isto verdade, é bom descobrir que a relação não é mera cortesia – até porque um paço episcopal é diferente de um Ministério qualquer… Fixei, por isso, este sinal, potenciador da «harmonia de acção e espírito» (CIC 407, 3).

Registei, depois, o modo tranquilo e bem-humorado como D. José Traquina a todos saudou, ao terminar a celebração. A sua gratidão teve nomes, não se esgotando na generalidade agradecida a professores, paroquianos, etc. Desceu ao concreto das menções pessoais, referindo quem mais o marcou no seu caminho; não esquecendo, sequer, os patrões já falecidos, com quem trabalhou nos tempos de jovem empregado do comércio.

Pode este meu sublinhado parecer um pormenor de somenos ou revelar uma esquisita sensibilidade. Mas, nestes tempos diferentes, faz um extraordinário sentido – introduzindo nos depoimentos a ternura que tão ausente tem estado.

O último sinal gravei-o já nos claustros dos Jerónimos, quando o novo bispo recebeu saudações de padres e diáconos. Reparei que sabia os nomes de quem o cumprimentava, acolhendo e sendo acolhido com alegria e entusiasmo.

Sei que uma escolha episcopal, sendo um processo algo participado, não é um processo democrático, no exacto sentido que costumamos dar à palavra; mas também não deve ser um processo…antipático. Ora, no domingo, era evidente a sintonia, percebendo-se que D. José Traquina está entre os seus e estes o sabem. Imagino, por isso, fáceis estes dias primeiros de um serviço diferente, alicerçado no conhecimento das pessoas e suas circunstâncias.

No silêncio de casa foi-me, por isso, natural regressar ao que tinha rezado na Ladainha e recordar o que tinha pedido: Senhor, dignai-Vos abençoar, santificar e consagrar este eleito.

 

João Aguiar Campos

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