Bons cuidados paliativos para respeitar os doentes

Edna Gonçalves, directora da Unidade de Cuidados Continuados do Instituto Português de Oncologia, no Porto, fala à Agência ECCLESIA de uma das ideias centrais da Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial do Doente: os doentes terminais e os chamados “incuráveis” devem ser tratados com atenção e com todos os meios necessários para respeitar a sua dignidade. Agência ECCLESIA (AE) – Qual é o lugar dos cuidados paliativos na nossa sociedade? Edna Gonçalves (EG) – Esta é uma área onde todos temos de investir muitíssimo e foi, desde sempre, uma área esquecida, a começar pelas Faculdades de Medicina, e é preciso evoluir muito. Em Portugal, há algumas unidades de cuidados paliativos, mas muito poucas, até porque noutros países há muito mais. A medicina, mesmo no sentido de dar medicamentos, tem muito a fazer, porque noutros locais a abordagem é diferente daquela da medicina curativa: aqui não é possível curar, mas diminuir o sofrimento utilizando todas as técnicas, desde a medicação à comunicação. AE – E é necessário criar unidades independentes? EG – Do meu ponto de vista, faz todo o sentido que existam unidades de cuidados paliativos nos hospitais, mas também fora deles. Estes cuidados são prestados a doentes com grande sofrimento e, mesmo na situação de doença não curável, há problemas muito intensos que são agudos e que implicam uma abordagem só possível nos hospitais de agudos. Nesta perspectiva de alívio de sintomas, os hospitais têm um longo caminho a percorrer. O doente crónico, contudo, tem momentos em que os sintomas são menos intensos e está mais controlado. Aí o ideal é estar em casa e haver equipas de cuidados paliativos que procurem que os doentes estejam o melhor possível. Quando não é possível estar em casa e os sintomas não são muito agudos, há espaço para um hospital de doentes crónicos ou numa unidade de cuidados paliativos menos intensivas. AE – A ausência de cuidados paliativos facilita a tentação da eutanásia? EG – Sim, está provado que nos sítios onde há melhores cuidados paliativos diminuem os pedidos de eutanásia. Mesmo num doente em fase terminal, quando conseguimos aliviar muitos dos sintomas físicos, psíquicos e sociais, não se pede a eutanásia, porque os doentes querem é viver. O objecto de trabalho dos cuidados paliativos é o alívio do sofrimento: quando o conseguimos, como acontece muitas vezes, aqueles que dizem que não querem viver acabam por deixar de pedir para morrer. Há uma ideia errada de que usar morfina vai matar os doentes ou acelerar a morte, mas os cuidados paliativos, por princípio, são contra a eutanásia e contra o encarniçamento terapêutico: o objectivo é aceitar a morte, como um acontecimento que não antecipamos nem atrasamos.

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