Papa pediu religiosos sensíveis ao «grito» dos marginalizados
Santa Cruz, Bolívia, 09 jul 2015 (Ecclesia) – O Papa disse hoje na Bolívia que a humanidade está a sofrer de uma “espiritualidade do zapping”, que leva as pessoas a “passar e voltar a passar” pelas situações, gerando indiferença face ao sofrimento alheio.
“São aqueles que correm atrás da última novidade, do último «bestseller», mas não conseguem entrar em contacto, relacionar-se, envolver-se”, observou, num encontro com membros do clero e institutos religiosos no Coliseu Dom Bosco, em Santa Cruz de la Sierra.
Francisco alertou para a tentação de ver como algo “natural” que “haja pobres, gente que sofre”.
“É o eco da indiferença, do passar ao lado dos problemas, procurando que estes não nos toquem”, precisou.
O Papa desafiou as comunidades católicas a aproximar-se sem “medo” do povo, porque a sua identidade é colocada à prova na forma como “reagem perante o sofrimento de quem está à beira da estrada, a quem ninguém liga nada ou apenas recebe uma esmola”.
“Não há compaixão que não se detenha, escute e solidarize com o outro. A compaixão não é ‘zapping’, não é silenciar a dor; pelo contrário, é a lógica própria do amor, é a lógica que não está centrada no medo, mas na liberdade que nasce de amar e coloca o bem do outro acima de todas as coisas”, prosseguiu.
A intervenção partiu do relato evangélico da cura de um cego, Bartimeu, que gritava pela ajuda de Jesus.
“Aparecem aqui duas realidades, que se nos impõem com força. Por um lado, o grito de um mendigo e, por outro, as diferentes reações dos discípulos”, explicou Francisco.
O Papa afirmou que muitos passam pelos gritos de ajuda “sem escutar a dor” ou, ouvindo esses pedidos, optam por tentar calar quem sofre.
“Cala-te, não chateies, não perturbes. Ao contrário da atitude anterior, esta escuta, reconhece, toma contacto com o grito de outro, sabe que está ali e reage duma forma muito simples: repreendendo”, observou.
Esta resposta, referiu o pontífice argentino, revela o “drama da consciência isolada”, daqueles que pensam que a vida de Jesus é “apenas para aqueles que consideram aptos”, numa questão de “superioridade”.
Cristo, pelo contrário, preocupa-se com esse cego e “restitui-lhe gradualmente a dignidade que tinha perdido, faz a sua inclusão”.
“Longe de olhá-lo de fora, esforça-se por se identificar com os problemas e, assim, manifestar a força transformadora da misericórdia”, acrescentou.
Convidando os padres, religiosos e religiosas a “rir com aqueles que riem, chorar com os que choram”, sem perder nunca a “capacidade do espanto”.
“Da mesma forma que ouvimos o nosso Pai, temos de ouvir o povo fiel de Deus”, sustentou.
Como fizera no Equador, Francisco pediu que os religiosos não percam a memória, dando como exemplo a importância de conservar os laços às línguas maternas, como o quíchua, guarani ou aimará.
Após esta cerimónia, o Papa segue para o centro de congressos ‘Expo Feria’ para participar no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares.
OC