«Custa-me muito a acreditar que não se saiba quem vende as armas. Então porque é que não se fala?», questiona Irmã Irene Guia
Lisboa, 30 jan 2015 (Ecclesia) – A Irmã Irene Guia aponta um “pecado de omissão global” perante os ataques do grupo militante islâmico ‘Boko Haram’ no norte da Nigéria, que desde o início do ano vitimou milhares de pessoas.
“O problema, que é de uma violência brutal, não se vai resolver apenas com as autoridades daquele país”, afirma a Escrava do Sagrado Coração de Jesus à Agência ECCLESIA, recordando o apelo que o arcebispo nigeriano Ignatius Kaigama fez dias depois do ataque em Paris ao jornal «Charlie Hebdo», a 7 de janeiro.
A religiosa fala num “pecado de omissão global” por parte da comunidade internacional que cala a venda das armas e sugere que “enquanto houver quem queira vender as armas sem consciência, nada adianta”
“Custa-me muito a acreditar que não se saiba quem vende as armas. Então porque é que não se fala?”
O arcebispo nigeriano Ignatius Kaigama pediu igual comoção internacional sobre a Nigéria, tal como aconteceu com os atentados ao «Charlie Hebdo».
“Estávamos todos com o coração em Paris e não houve informação que na mesma data um grupo militar estava no norte da Nigéria a dizimar milhares de pessoas. O presidente da Nigéria manda condolências sobre o que se estava a passar na capital francesa e não diz nada sobre o seu país”.
A religiosa aponta a “proximidade com eleições” naquele país africano e a “incapacidade para terminar com as ações do ‘Boko Haram’”, o que levou o presidente a “omitir a dimensão da tragédia e a referir que morreram 150 pessoas, quando as fotografias satélites mostram populações dizimadas”.
Recorda a comentadora da ECCLESIA que em 2012 o Estado nigeriano foi responsável por um massacre a uma aldeia considerada protetora do ‘Boko Haram’; como represália, o grupo militante islâmico dizimou as aldeias consideradas colaboradoras do exército nigeriano.
Nos últimos dias vários ataques contra a comunidade cristã no Níger causaram pelo menos uma dezena de mortos e a destruição de diversas igrejas.
Uma religiosa católica que fugiu do Níger denunciou a intenção do grupo fundamentalista islâmico ‘Boko Haram’ de “massacrar todos os cristãos” deste país africano.
“As pessoas não estão nem de um lado nem de outro, estão sim aterrorizadas”, indica a Escrava do Sagrado Coração de Jesus.
A pobreza crónica e o não reconhecimento do sistema de educação, muito ligado à proposta ocidental, conduzem uma “sensação de humilhação” por parte da população.
“A corrupção dos líderes e a influência que os EUA têm nestes países, que consideram que a sua religião é humilhada, conduz a um desejo de vingança”, sugere a religiosa.
Irene Guia indica a “falta de escolaridade” como uma das causas da pobreza e “facilitadora de manipulação”.
“Quantos missionários não foram assassinados na América latina porque estavam a promover a educação?”
A religiosa recorda palavras do Papa Francisco e pede uma “comunhão internacional como um encontro de culturas”.
O comentário da Irmã Irene Guia pode ser acompanhado no programa Ecclesia na Antena 1, no próximo domingo.
LS
