Bodas do Bispo com Orquestra e Carta pastoral

Vila Real está em festa com as bodas de prata de D. Joaquim Gonçalves. No próximo dia 22 deste mês o Bispo de Vila Real, D. Joaquim Gonçalves, celebra as suas bodas de prata episcopais e do programa consta um concerto constituído pela execução integral da Travessia, um oratório com quatro quadros: a Distribuição das tribos, as Tentações do deserto, os Frutos da terra prometida, a Despedida de Moisés e a Passagem do Jordão. O texto é da autoria do prelado e a música de Joaquim Santos, de Cabeceiras de Basto. A Travessia evoca em leitura directa as mudanças sócio culturais de Trás os Montes, mormente da área diocesana de Vila Real, e, de modo indirecto, os desafios da problemática da modernidade europeia. A execução está confiada à Orquestra do Norte, dirigida pelo maestro Ferreira Lobo, e ao coro de Chaves, sendo solistas Fernando Guimarães, tenor, e Inês Villadelprat, soprano. Do programa preparatório faz parte uma série de três conferências sobre Jesus Cristo: o contexto histórico, o Cristo pascal e Jesus Cristo na arte. As conferências serão proferidas no Arquivo Distrital de Vila Real nos dias 18, 19 e 20 às 21.30. No Domingo às 16 horas haverá uma Eucaristia na Sé catedral e à noite, às 21.30, na mesma Sé realizar-se-á o referido concerto. D. Joaquim Gonçalves é natural de Fafe e foi ordenado Bispo em 18 de Outubro de 1981 no Sameiro, Braga, sua diocese de origem, cujos seminários frequentou e onde concluira os cursos de Humanidades, Filosofia e Teologia. Mais tarde licenciou-se em Filosofia na Universidade do Porto e trabalhou na Póvoa de Varzim. Foi Bispo Auxiliar de Braga até 1997, ano em que passara a Bispo Coadjutor de Vila Real, e Bispo diocesano em Janeiro de 1991. Completou 70 anos em Maio passado. Para o jubileu episcopal publicou uma carta pastoral, Convosco e para vós, sobre o Ministério do Bispo e alguns problemas pastorais. O título é extraído da obra de S. Agostinho que se refere ao Bispo como um cristão que alia a sua condição de baptizado a viver «com os outros fiéis» com a de quem exerce «para eles» o ministério ordenado de governo da Igreja. A Carta está redigida como testemunho e profecia e faz uma síntese pastoral de o Bispo na fé da Igreja, o Magistério da Igreja e a tentação da novidade, Ser cristão num regime de laicidade, Vida paroquial e Seminário hoje. O primeiro tema é relativo ao ministério do Bispo como membro do «colégio episcopal» que sucede ao « colégio apostólico» dos Doze Apóstolos, e não uma sucessão individual, de modo que a consciência de ser membro de uma equipa é fundamental no ministério do Bispo. Em relação à diocese, o Bispo, como membro do colégio, tem uma certa anterioridade sobre ela e garante e educa a catolicidade e a apostolicidade da fé da comunidade. Fala depois de duas características da sociedade actual, a tendência cultural para começar tudo de novo, com esquecimento de todo o passado, a perda da memória cristã, e ao regime de laicidade. Refere a esse respeito o comentário do então cardeal Ratzinger sobre os termos «conservador» e «moderno» no interior da Igreja, para dizer que «ser conservador» é na Igreja uma virtude quando for sinónimo de «fidelidade» e será um vício se significar «ser parado», inactivo, oposto a missionário. De modo semelhante, o sentido positivo de «moderno» será o uso de «métodos actuais de evangelização» e nunca a «ruptura» doutrinária. Isto não significa a defesa de um «fixismo» doutrinário na Igreja, pois nela há um desabrochar constante da fé para responder aos problemas de cada época, mas essa actualização ou «modernidade da doutrina» é tarefa dos Pastores e não das aventuras de outros mestres. Significativamente , o magistério foi sempre, na vida de Jesus e da Igreja, o aspecto mais contestado. Acerca do regime de laicidade, lembra que a separação da Igreja e do Estado evita a politização da Igreja e o endeusamento da política, e não significa o desinteresse pela vida religiosa dos cidadãos. A sociedade não é laica, nela vive e trabalha a Igreja e outras comunidade, agora independente de poderes políticos. Esse regime de laicidade exige dos fiéis uma atitude de coragem de pessoas, de grupos e de famílias, felizes pela riqueza dos seus valores, acima do «núcleo dos valores éticos da sociedade civil». É uma situação semelhante ao «martírio» dos primeiros cristãos que só reivindicavam a liberdade de viverem a sua fé, sem inveja da «liberdade de vida» dos outros. Essa autonomia do cristão não é traz consigo o desinteresse pelo mundo. Pelo contrário, o fiel é alguém interessado em contribuir para a saúde ética desse mundo, na linha da natureza, sem o tornar confessional. Sobre a paróquia, diz que, num contexto de grande mobilidade de pessoas e de pluralidade de doutrinas, a «territorialidade» da paróquia mantém o seu valor como sinal de uma Igreja organizada, mas tem de cultivar mais o sentido de «acolhimento», com oferta de «celebrações dignas» e sentido de «disciplina da Igreja». De modo semelhante, o Seminário perdeu o significado de lugar de promoção social para se assumir cada vez mais como espaço de fé e oferta de serviço eclesial. A carta termina com um apelo à vida que constitui o lema episcopal de há vinte anos, ut vitam habeant ( para que tenham vida), pedindo aos vários secretariados diocesanos que façam um estudo e aplicação da carta aos diversos sectores.

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