“Bo camiño! Há pressa no ar!”

Ana Inês Agostinho, Diocese de Setúbal

O mês de julho traz-me de volta ao Caminho de Santiago de Compostela. Embora este ano não o possa percorrer com os pés, sinto-me ainda assim peregrina espiritual pela memória deste caminho, que agora se liga também ao caminho para a Jornada Mundial da Juventude, que se realiza daqui a nada em Lisboa.

Tudo começa a partir do momento em que se decide levantar e pôr a caminho. Já aqui se percebe que não é apenas um caminho físico a desbravar… Brincando com as palavras, o caminho dá “coração”, alimenta-o, dá cor-à-ação. Isto é, traz cor, concretização, ao desejo de partir, sair-se do lugar em que se está. Esta atitude de saída, cujo melhor modelo é Maria, se assim permitirmos e se Deus quiser, pode transformar-nos desde o interior, refletindo-se também no nosso modo de agir com os outros. Para isso, é preciso tomar consciência do que trazemos do caminho e do que lá deixamos… Ainda não chegámos à JMJ, ainda estamos a caminho. Mas podemos fazer desde já este exercício olhando para os passos percorridos desde o coração.

Na minha história do Caminho de Santiago, percorri duas vezes a pé o caminho português. Na mesma estrada percorrida, dois caminhos tão distintos. Na primeira peregrinação, contra a minha expectativa inicial, as exigências maiores não foram as físicas, mas nas relações e no meu íntimo… Respeitar o ritmo dos outros, partilhar e acolher histórias de vida, reconhecer Cristo em quem caminha a meu lado, sentir a presença de Deus em “tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo”. Também neste caminho para a JMJ, tenho observado este grande desafio no caminhar lado a lado com os outros, apoiarmo-nos nas nossas fragilidades, reconhecendo a graça que o Senhor atuar na vida de cada um, no que corre bem e no que vai menos bem.

Da última vez que peregrinei a Santiago, estávamos ainda sobre a sombra do COVID e decidimos dormir mesma casa todas as noites, o que fazia com que andássemos até certo ponto e no dia a seguir, de manhãzinha, voltássemos a esse mesmo lugar numa carrinha, retomando assim o caminho. Deus é mesmo surpreendente… Também nas rotinas e nos caminhos que nos parecem sempre os mesmos, não deixa de Se comunicar, de nos apresentar novidades e de nos levar mais longe. Em algumas das muitas funções que tantos voluntários têm vindo a assumir na preparação para a JMJ, é fácil cair na tentação de olhar com cansaço para o trabalho e as dificuldades constantes da paisagem do dia-a-dia. Mas ergamos o olhar para contemplar a beleza de Deus que se revela em todas estas coisas.

Estamos prestes a receber o Santo Padre e cerca de 1,5 milhões de peregrinos em Portugal, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ)… Paremos para pensar em quantos “caminhos” vão ser percorridos pelo mundo fora até “aqui”, este lugar que para nós não é novidade, mas casa. Deixemo-nos tocar pela graça que o Senhor fará acontecer em nós pelo acolhimento destas pessoas, com tantas histórias, com a frescura de outras culturas… Atenção! Com a enormidade de Deus ser sempre novidade, mesmo que já tenhamos feito este “caminho” até Lisboa inúmeras vezes.

Estejamos vigilantes, não deixando passar a “multidão” e permanecermos iguais. O maior encontro da JMJ que pode acontecer é da humanidade com Deus!

Estejamos disponíveis. Sempre para Deus! Se estamos envolvidos na preparação da JMJ, não nos percamos d’Aquele que nos fez dizer “sim”, levantar e partir apressadamente…  Poderá haver muito ruído, muitas arestas a serem limadas… Mas onde temos o coração? A quem ou a que dedicamos o teu tempo?

Partamos apressadamente! Com ânimo!
Bo camiño!!!

Ana Inês Agostinho
Fisioterapeuta; faz parte do Departamento da Juventude de Setúbal, é a coordenadora da equipa de Formação

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Agência ECCLESIA

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