Bispos prometem luta contra a «lei injusta» do aborto

Defesa da vida e preocupação com os problemas sociais marcam abertura dos trabalhos da assembleia da CEP O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, criticou hoje a legislação aprovada na sequência do referendo ao aborto, afirmando que se trata “de uma lei injusta a que, por isso, não podemos dar o nosso apoio”. “O enquadramento jurídico da lei não se limita a despenalizar o aborto, mas faz desta prática um direito, uma conduta legal e, por isso, passível da colaboração activa do Estado”, considerou o Arcebispo de Braga, no início dos trabalhos da assembleia plenária da CEP, que se prolongam até ao próximo dia 19, em Fátima. Lembrando que “em democracia não há leis intocáveis e irreversíveis”, os Bispos portugueses lamentam que se tenham gorado “as possibilidades de limitar as injustiças que a lei encerra”, em especial “um sistema de aconselhamento obrigatório”. “Na verdade, caso existissem alternativas válidas, a maioria das mulheres não optaria pelo aborto”, referiu D. Jorge Ortiga. Nesse sentido, a Igreja compromete-se a “responder à banalização do recurso ao aborto através de uma acção redobrada de todas as comunidades cristãs, no apoio solidário às mulheres grávidas e às famílias com dificuldades em assumir a maternidade”. Face ao quadro legal aprovado, assegurou o presidente da CEP “a nossa atitude há-de ser, pois, a de lutar pela formação das consciências e pela mudança de mentalidades, que limite o mais possível o recurso a esta lei”, prometendo estar atento “ao cumprimento dos (poucos) limites legais à prática do aborto”. “Neste âmbito, não esquecemos a necessidade de garantir o direito fundamental à objecção de consciência, o qual não pode acarretar para quem o exerce forma alguma de discriminação ou prejuízo na carreira profissional”, alertou ainda. Crise social Na sua intervenção, D. Jorge Ortiga afirmou que “a sociedade portuguesa está hoje ferida por problemas sociais que afectam em profundidade uma maioria significativa da população”. O presidente da CEP disse, a este respeito, que “o descontentamento dos jovens estudantes pode desaguar numa onda crescente de delinquência” e que “o protesto contra as reformas na Segurança Social insinua perplexidade e dúvidas face ao amanhã”. Este responsável lembrou também que “o desemprego ceifa perspectivas de futuro que nem uma imaginação acutilante e uma formação profissional conseguem restabelecer”, ao mesmo tempo que se acentuam “as desigualdades no acesso à cultura e ao poder económico”. Falando, depois, dos desafios que se colocam a uma Europa que parece ter perdido a sua “alma”, o Arcebispo de Braga indicou que “sem um posicionamento moral e ético, sem uma solidariedade efectiva capaz de suscitar uma profunda transformação de modelos de comportamentos no consumo e na produção, o desenvolvimento integral e sustentável fica nas meras intenções”. “A pessoa continua a ser vista como estatística duma economia de mercado. Mas é, precisamente, a pessoa, na sua individualidade irrepetível, a única capaz de oferecer um desenvolvimento sustentável, criador duma distribuição equitativa das reservas do mundo e duma atenção responsável de todos por cada um”, alertou. Num ano em que ocorre o 40.º Aniversário da Populorum Progressio (Paulo VI) e o 20.º Aniversário da Sollicitudo Rei Socialis (João Paulo II), a CEP considera fundamental “dar maior visibilidade” à Doutrina Social da Igreja. Segundo D. Jorge Ortiga, o melhor modo de comemorar os aniversários destas encíclicas “é levar a Doutrina Social da Igreja para os espaços de debate público, conscientes da sua verdadeira originalidade”. Assumir a fé O discurso inicial da Assembleia Plenária aludiu ainda à reflexão delineada pela CEP para o triénio 2005-2008: “transmitir a fé na sociedade portuguesa”. O Arcebispo de Braga afirmou que “a fé deve ser um encontro com Cristo, motivador de compromissos concretos e assumidos”. Nesse sentido, D. Jorge Ortiga defendeu a necessidade de “um novo paradigma orgânico de evangelização”. “Urge apostar no acolhimento das pessoas que suscite a alegria do primeiro anúncio, para prosseguir num processo catecumenal de catequese, que venha a desaguar numa pastoral de aprofundamento. Só assim os cristãos estarão presentes nos mais variados sectores da sociedade: família, escola, comunicação social, saúde e tantos outros areópagos”, disse. Os Bispos analisarão, neste encontro, os catecismos do 7.º, 8.º e 10.º anos, que têm vindo a ser reformulados nos últimos anos de acordo com novas propostas pedagógicas, e os programas da Educação Moral e Religiosa Católica. “A preparação de manuais ou catecismos é uma tarefa tremendamente complexa. Mais importante, porém, são as pessoas que os vão usar. Sem catequistas marcados pela fé, na sua dimensão de conhecimento e experiência quotidianos, os catecismos podem revelar-se estéreis”, assinalou D. Jorge Ortiga. O presidente da CEP criticou, por outro lado, algumas “interpretações minimalistas” da Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, de Bento XVI. “Alguns órgãos de comunicação social esquecerem o espírito do documento, concentrando-se em questões meramente acidentais. Importa, pois, que os cristãos mergulhem neste, como em tantos outros documentos, para adquirir uma formação sólida e esclarecida”, observou. Notícias relacionadas Em Mutação Cultural – Transmitir a Fé

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Agência ECCLESIA

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