Bispos portugueses felizes com o trabalho do Sínodo

D. Anacleto de Oliveira e D. António Bessa Taipa fazem um balanço de três semanas numa experiência única Os delegados portugueses ao Sínodo dos Bispos regressam ao nosso país com a certeza de terem vivido uma experiência única, sobretudo pela oportunidade de partilhar experiências e opiniões com prelados católicos de todo o mundo. No final da XII assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorreu no Vaticano de 5 a 26 de Outubro, D. Anacleto de Oliveira e D. António Bessa Taipa fazem um balanço muito positivo dos trabalhos dedicados ao tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Em declarações à Agência ECCLESIA, D. Anacleto de Oliveira, Bispo Auxiliar de Lisboa, indica que “foi interessante encontrarmos aqui gente que não conhecíamos de lado nenhum e entrarmos em contacto uns com os outros, como se já nos conhecêssemos”. Para este responsável, a partilha de experiências foi o mais marcante, logo desde o arranque dos trabalhos. “Isto dá-nos uma imagem mais universal da Igreja”, assegura. Quanto à abertura manifestada pelos participantes no Sínodo ao diálogo entre cristãos, com membros de outras religiões e com as culturas do mundo – elementos presentes nos documentos conclusivos da assembleia – D. Anacleto de Oliveira considera que essa foi “uma experiência muito enriquecedora”, seja pelos testemunhos dados por membros de outras confissões cristãos – “impressionantes” – seja pela presença inédita de um Rabino. “Foi uma sensação única para quem, como eu, passou anos e anos no estudo da Sagrada Escritura, sentir ao vivo alguém que estuda a mesma Palavra de Deus”, assegura. Na mesma linha, a “lição” do Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, na Capela Sixtina, “uma visão oriental, muito humana, com uma antropologia muito aliciante da Palavra de Deus”. “Temos muito a aprender com eles e eles connosco. Nesta aprendizagem mútua vive-se a unidade da Igreja, que é fundamental”, assinala. Leituras da Bíblia O Bispo Auxiliar de Lisboa confessa que trazia grandes expectativas em relação aos temas do estudo da Bíblia, assegurando que sempre o preocupou o facto de “a teologia, a pastoral não aproveitarem devidamente os resultados da investigação exegética” e que a exegese “não se abrisse plenamente aos caminhos da teologia e da pastoral”. Este acabou por ser um dos pontos em que houve mais debate no Sínodo, estando inclusivamente presente na intervenção realizada por Bento XVI na assembleia. Para D. Anacleto de Oliveira, é importante que o Papa ajude todos a encontrar o “verdadeiro fundamento” desta questão, ligada à relação entre “Palavra de Deus e Bíblia”. “A reconciliação entre exegetas e teólogos, entre exegetas e pastoralistas é possível”, assinala o prelado, para quem ficou claro, ao longo das semanas do Sínodo, que todos “são necessários”. “Uma leitura que seja apenas pastoralista, sem exegese, é incompleta, e o contrário também”, defende, frisando que “o caminho está aberto”. Mensagens para o mundo D. António Bessa Taipa, Bispo Auxiliar do Porto, destaca a importância dada à relação da Bíblia com a cultura, as novas tecnologias, com o ecumenismo e a “fraternidade universal”. “O que fica claramente acentuado é a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja e também na vida da humanidade” refere o delegado português. “É nesta base que o Sínodo procurou chegar com clareza até ao último círculo da humanidade, porque todos os que vivem, vivem de Deus”, assinala, destacando que “a Palavra é luz para todos os homens”. “A Palavra está confiada à Igreja e ela tem o dever de a tornar patente a toda a humanidade”, indica o Bispo Auxiliar do Porto, pedindo “a humildade de quem procura pautar a sua vida” por esta Palavra, em todas as dimensões. Para o prelado português, “a Escritura, a Palavra de Deus, não é fundamentalmente uma fonte de conhecimentos, mas é a Revelação de que Deus ama todos os homens”. “Daí, só se espera uma coisa: que os homens sejam capazes de se entender e de se amar uns aos outros”, indica D. António Bessa Taipa, destacando o facto de a mensagem final do Sínodo falar ao “coração” dos ouvintes. Proclamar a Palavra Um dos pontos em que se insistiu muito foi na importância do ministério do leitor, com o objectivo de “dar à Bíblia e à Palavra de Deus em geral aquela dimensão sacramental que ela já tem e que aqui foi reconhecida abertamente”. “Se para a celebração dos outros sacramentos temos ministros instituídos, porque é que não havemos de ter para esta missão da Igreja, que é proclamar a Palavra de Deus?”, questiona, advogando uma preparação não só técnica, mas também científica. Por tudo isso, “estamos na expectativa de saber até que ponto o Papa irá, não digo institucionalizar o ministério, mas dar-lhe o valor que merece, até porque nas nossas celebrações as leituras não são feitas como deve ser, é um dos pontos fracos, e não admira que, depois, as pessoas não lhe dêem o valor devido”. D. António Bessa Taipa destaca que “foi dado muito realce ao papel dos catequistas, a quem, no fundo, leva a Palavra até ao terreno”. Além do reconhecimento do papel destes leigos e leigas, há um conjunto de sugestões e partilhas feitas com o Papa, “que possui toda uma série de elementos” dos trabalhos destes dias. “Há fundamentalmente um ambiente que se viveu e que ele (Bento XVI) viveu connosco”, conclui o Bispo Auxiliar do Porto. Foto: Lusa

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