O cenário de eleições legistlativas antecipadas e instabilidade política no nosso país marcaram várias das intervenções com que os Bispos portugueses iniciaram o ano de 2005. No seu conjunto, os prelados pedem uma aposta decidida por Portugal, colocando de lado eventuais interesses pessoais ou partidários. O Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, fez votos para que o “bem comum” seja a prioridade da vida nacional ao longo do ano que agora se inicia. O prelado admite que este será um ano de “grande agitação política”, mercê dos vários actos eleitorais em agenda, mas manifesta o desejo de que tudo se passe dentro do “respeito de todos, num sadio reconhecimento de pensamentos diferentes”. “Faço votos para que os partidos pensem em Portugal e para que os portugueses os julguem pelo carácter positivo das suas propostas”, apontou. No mesmo sentido se pronunciou o Bispo de Viseu, que pediu aos nossos políticos para “pensar em grande” o Bem Comum do país. “Não poderia a próxima competição eleitoral que se avizinha, constituir uma espécie de ‘laboratório político’ em que o bem comum seja posto, por todos e cada um, antes e acima dos interesses de parte?”, pergunta. D. Armindo Lopes Coelho, Bispo do Porto, alertou no primeiro dia de 2005 que o país não tem encontrado “a lucidez corajosa para sujeitar interesses pessoais e particulares às exigências do bem comum, esquecendo assim os naturais compromissos de cada um e dispensando facilmente a responsabilidade da autoridade política”. A questão já tinha sido levantada pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa na Noite de Natal. D. José Policarpo referia, então, que Portugal vai novamente “discutir, confrontar, procurar caminhos, soluções para problemas, objectivos a atingir, modelos de desenvolvimento e de convivência”. Nesse sentido, pedia que os cristãos não se alheiem deste momento, “no exercício pleno das suas responsabilidades democráticas; lutem por objectivos e soluções que concretizem o ideal de sociedade em que acreditamos, que garantam os valores que defendemos e que não significam apenas a defesa da nossa fé, mas a defesa da dignidade da pessoa humana”. Aos católicos portugueses, o Bispo de Angra disse na mesma altura que “mais do que lamentar-se, importa discernir a situação com objectividade e assumir atitudes responsáveis e construtivas”. “A vida é mais do que permitem os mecanismos da economia de mercado. Nem tudo depende só dos políticos de profissão, das forças partidárias e dos governantes. Têm responsabilidades acrescidas, que não podem escamotear. Mas a participação cívica não se esgota na política. Cada cidadão tem a sua quota-parte de responsabilidade pelo bem comum”, escreveu D. António Sousa Braga. D. António Marto aponta o dedo “à difusão da cultura individualista pós-moderna, uma mentalidade corporativista e uma visão economicista do mercado global sem regras éticas têm provocado a carência de ‘pensar em grande’ o bem comum e de ‘organizar a esperança’, que caracteriza a vida pública entre nós”, exigindo “uma maior atenção a quem está ao nosso lado, uma maior confiança nas instituições, mais paz entre os representantes das instituições, menos egoísmos privados e de grupos, o surgir de perspectivas nacionais, europeias e mundiais capazes de justificar os sacrifícios que fazemos e que, de algum modo, são inevitáveis”. O prelado acredita, no entanto, que aderir ao bem comum começa pelas atitudes mais simples e fundamentais. “Fazer bem o próprio dever, ser honesto em todas as acções, atender com respeito e generosidade sobretudo os mais frágeis e necessitados, são regras elementares sem as quais a convivência humana se torna numa selva insuportável, onde reina a lei do mais forte ou do mais esperto”, aponta. Na sua homilia de Ano Novo, o Bispo de Viseu convida os nossos políticos a acolher a mensagem da paz de João Paulo II, “fujam do mal com horror e adiram ao bem”. Num olhar mais alargado sobre a sociedade portuguesa e o contexto europeu, o Arcebispo de Braga refere, por outro lado, que “o laicismo galopante deveria inquietar-nos”. “Todos se deveriam empenhar por uma sociedade de aceitação e respeito pela diversidade de experiências religiosas sem fundamentalismos cegos destruidores dum sentido de tolerância como ambiente normal para um conhecimento e felicidade comum” é a receita de D. Jorge Ortiga para 2005.
