Conferência Episcopal fala em precipitação que abre uma «ferida democrática»
A aprovação da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo pelo Governo e pelo Parlamento foi uma precipitação e a ausência de um referendo sobre esta matéria abre uma “ferida democrática” – disse à comunicação social o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Pe. Manuel Morujão.
Após o Conselho Permanente da CEP, realizado Terça-feira (12 de Janeiro), o Pe. Manuel Morujão considerou que “esta precipitação, pondo de lado o pedido de cerca de uma centena de milhar de cidadãos, e sobretudo em tão pouco tempo, belisca a qualidade da democracia”.
A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, proposta de lei do Governo que os partidos de esquerda aprovaram sexta-feira na Assembleia da República, e a visita do Papa a Portugal, em Maio próximo, foram dois dos temas analisados pelos bispos.
Os bispos consideram que as pessoas “merecem ser tratadas com todo o respeito”, mas a “família e o casamento devem ser tratados também com todo o respeito”. E acrescenta: “para casos diferentes deve haver soluções diferentes”. A família tem uma “identidade única, ímpar e insubstituível” – disse o porta-voz da CEP.
Após esta aprovação parlamentar, o Pe. Manuel Morujão disse existir agora “uma certa ferida democrática em consequência de ter havido uma movimentação tão rápida de cidadãos”, através da Plataforma Cidadania e Casamento, que “em pouquíssimas semanas se dinamizou a ponto de recolher quase uma centena de milhar de assinaturas para que pudesse haver um referendo” sobre o casamento homossexual, solicitação no entanto rejeitada pela maioria dos deputados.
O Pe. Manuel Morujão salienta que “não se podem fazer referendos por qualquer motivo”, mas se não se considera a possibilidade de um referendo numa “questão tão profunda e delicada como é a estrutura familiar baseada no casamento entre um homem e uma mulher, pergunta-se se haverá alguma vez razão para promover um referendo”.
Questionado sobre se a Igreja Católica era favorável ao referendo, o secretário da CEP respondeu que “poderia ser uma ocasião apropriada para que se reflectisse e não se tomassem decisões” que a Igreja considera “precipitadas”. “Deveria haver mais ponderação, mais reflexão, mais tempo para aprofundar a questão e ver quais são as consequências”, acrescentou.
Sobre a impossibilidade de os casais homossexuais adoptarem crianças, o porta-voz da CEP, falando a título pessoal, declarou que, “de alguma maneira, quem votou nessa lei cai na contradição de que as coisas não estão tão bem para poder dar todos os direitos” aos homossexuais. Sendo assim, “há um rebate de consciência e vêem que as crianças não podem ser prejudicadas com este tipo de casamento”, apontou, reiterando que “a Igreja está radicalmente contra a possibilidade de adopção” por casais homossexuais.
Os bispos esperavam que “houvesse medidas de protecção à família, para que os casais possam ter os filhos que desejam ter, para que a saúde, a educação, o emprego sejam protegidos e não debilitada a estrutura da família” – sublinhou.
Em relação à visita de Bento XVI a Portugal, o Pe. Manuel Morujão realça que existem preparações bilaterais e, no próximo dia 9 de Fevereiro, será publicada uma Nota Pastoral dos bispos portugueses sobre esta visita.