Reconstrução pós-guerra, infra-estruturas sociais e desafios a enfrentar pela Igreja foram alguns dos temas abordados pelos prelados
A instabilidade das famílias, motivada pela emigração, pelo divórcio e pelo receio do compromisso matrimonial sem uma experiência prévia de co-habitação, constitui um dos desafios enfrentados pela Igreja cabo-verdiana, afirmou o responsável da diocese de Santiago, D. Arlindo Furtado, durante o Sínodo dos Bispos para África.
A preocupação pelo futuro das comunidades familiares foi também mencionada pelo bispo de Caxito (Angola), D. António Jaca. O êxodo das aldeias para a cidade provocou mudanças profundas nos hábitos das populações, o que se reflectiu, por exemplo, na educação dos filhos. “Quem cuida destas crianças durante todo o dia? Abandonadas à sua sorte, têm como companhia outras crianças, a rua, a televisão, etc. Vemos assim crianças cuidando de outras crianças, educadas na rua, à mercê de tudo e de todos”, denunciou.
O prelado expressou igualmente a sua inquietação pela influência que os meios de comunicação social exercem na formação das crianças e dos jovens, devido à apresentação de modelos que incentivam a violência e outros comportamentos anti-sociais.
Regozijo e preocupação
Depois de evocar as consequências dos trinta anos de guerra civil em Angola, D. António Jaca, apontou algumas insuficiências na reconstrução do país. Tem havido um investimento significativo, “o que é louvável”, mas pouco ou quase nada se tem feito no sentido de ajudar a recompor o tecido humano. As consequências já se fazem sentir, sobretudo com o aumento “assustador” da criminalidade protagonizada por jovens e adolescentes.
Por seu lado, o bispo de Santiago saudou o funcionamento da democracia, que está a contribuir para a implementação de estruturas sociais, para o aumento da esperança de vida e para o alargamento do sistema de ensino, que envolve cerca de um terço da população.
Subsistem, no entanto, diversos problemas por resolver em Cabo Verde: deficiente educação cívica, crianças em risco, delinquência juvenil e altos índices de desemprego, que atinge sobretudo os jovens. O prelado referiu-se ainda à invasão de seitas – com falsas promessas e grande domínio na comunicação social – bem como à influência do Islão no único país católico da região, devido à imigração proveniente dos Estados vizinhos.
Desafios à Igreja
De acordo com o bispo de Caxito, as igrejas são procuradas por quem precisa de ajuda e refúgio, tornando-se locais onde os mais desfavorecidos vão lamentar as suas dificuldades e procurar uma palavra de conforto.
O prelado criticou as prioridades de alguns padres, que não estão disponíveis para acolher quem precisa de apoio: “Digo isto com muita tristeza: muitos dos nossos sacerdotes, ocupados em muitas outras coisas, não estão disponíveis para atender as pessoas e não prestam a necessária atenção pastoral, mormente no sacramento da reconciliação e no ministério da escuta”.
Quanto a Cabo Verde, a realidade exige da Igreja um outro nível de responsabilidade, na pastoral e na formação dos seus agentes, disse D. Arlindo Furtado.