Bispos das Honduras apelam a uma «solução de amplo consenso»

Ainda antes do golpe de Estado, a Conferência Episcopal das Honduras pronunciou-se sobre a situação política no país

A Conferência Episcopal de Honduras apela a soluções políticas de amplo consenso e reclama o direito do povo se pronunciar sobre questões centrais na construção da “frágil” democracia do país.

Numa carta redigida no final da segunda Assembleia Plenária de 2009, 8 dias antes da deposição do Presidente das Honduras, o texto do episcopado reflecte já os rumores de um golpe de Estado.

Independentemente da opção política que venha a ser escolhida, "preferencialmente com amplo consenso", os bispos afirmam que se "deve garantir ao povo a regulamentação de fontes constitucionais como o plebiscito e o referendo, de tal forma que (…) o próprio povo seja consultado em todas as questões de grande importância".

A mensagem refere que “cabe à Igreja colaborar na consolidação das frágeis democracias e no positivo processo de democratização na América Latina e no Caribe”.

Os bispos reiteram a necessidade de serem planeadas estratégias que solucionem os problemas que ameaçam a democracia, como o aumento da violência, a diminuição de recursos financeiros do Estado, o desemprego, a corrupção, o aumento do crime organizado e do narcotráfico, a diminuição da força que os valores morais e religiosos dão à sociedade, a vulnerabilidade diante dos fenómenos naturais, entre outras questões. 

Os prelados pedem ao Estado e às instituições, sobretudo às Forças Armadas, transparência, organização e responsabilidade na realização das próximas eleições, para que elas sejam um exemplo de convivência pacífica, respeito pela Constituição e defesa do povo hondurenho.

Crise política

A 28 de Junho, o líder do Congresso, Roberto Micheletti, foi investido presidente do país, depondo Manuel Zelaya, no primeiro golpe de Estado na América Latina em 16 anos.

Na origem da crise está a realização de um referendo que, a ser aprovado, possibilitaria a Zelaya concorrer a uma segunda votação, depois de em 2006 ter sido eleito para um mandato não renovável.

O golpe de Estado foi condenado pela ONU, União Europeia e Estados Unidos. A Organização dos Estados Americanos, que se reuniu a 1 de Julho em Washington, exigiu que Zelaya regressasse à Presidência no prazo de três dias. Apesar da pressão internacional, Micheletti recusou abandonar o cargo.

Zelaya já manifestou a vontade de regressar ao país, apesar da ordem de captura emitida contra ele. 

As Honduras, que fizeram parte do império espanhol no continente americano, tornaram-se uma nação independente em 1821. O país, com 7,2 milhões de habitantes, tem uma área de 112.492 quilómetros quadrados. Na capital, Tegucigalpa, reside um milhão e meio de pessoas.

A população é constituída maioritariamente (90%) pela mestiçagem entre Maias e Europeus. O cristianismo católico é a principal religião (97%). O Presidente do país, eleito directamente pela população para mandatos de quatro anos, é aconselhado por um Conselho de Ministros. 

Em 1998, o país foi afectado pelo Furacão Mitch, que matou cerca de 5600 pessoas.

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