Bispos da Europa reunidos em Bruxelas

Economia, não proliferação de armas e alterações climáticas são desafios apresentados à Igreja

O contributo da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE) na construção europeia foi recordado pelo Presidente deste organismo, D. Adrianus van Luyn, no início Assembleia plenária de Outono, que começa esta Quarta-feira, em Bruxelas.

“A COMECE tem contribuído para a construção da “Ecclesia na Europa”. Esta certeza, afirmou o Presidente, “dá-nos coragem e confiança para o trabalho que se nos apresenta e que prosseguiremos com a mesma coragem e a mesma fé”.

A COMECE organiza até Sexta-feira junta em Bruxelas um encontro das conferências episcopais da União Europeia.

Na sessão de abertura, D. Adrianus van Luyn (na foto) fez uma retrospectiva dos últimos acontecimentos europeus. A eleição dos deputados para o Parlamento europeu foi um dos assuntos abordados. Este acto eleitoral levou mais de 375 milhões de cidadãos dos 27 estados membros da União Europeia às urnas. “Temeu-se,  devido às críticas acerca do projecto europeu, que a participação eleitoral diminuísse. Na realidade, um total de 161, 3 milhões de pessoas votaram, o que significa que 43% do eleitorado participou nas eleições. Comparando com 2004, houve um decréscimo de 2,5%, apesar de nos países escandinavos e na Áustria a participação eleitoral ter aumentado”, assinalou.

O presidente da COMECE saudou os 736 novos membros do Parlamento Europeu e assinalou que mais de metade dos novos membros foram eleitos pela primeira vez para estas funções, sinal de “mudança geracional” no parlamento europeu.

No discurso de abertura da sessão plenária, D. Adrianus van Luyn referiu-se ainda à “difícil” ratificação do Tratado de Lisboa, que “teve de ultrapassar difíceis obstáculos”. Depois de a Alemanha, Irlanda, Polónia e República Checa terem ratificado, o Tratado de Lisboa entra “em força” a 1 de Dezembro.

O Presidente da COMECE lembrou que esta Quinta-feira, os chefes de Estado e do Governo juntam-se em Bruxelas para “preencher os dois primeiros postos criados pelo Tratado de Lisboa” – o Presidente do Conselho Europeu e o Alto Representante para os Assuntos Externos que se irá tornar Vice-Presidente da Comissão Europeia.

Acerca ainda do funcionamento da União Europeia, D. Adrianus van Luyn saúda a entrada em funcionamento da nova Comissão Europeia. “Na COMECE estamos interessados em perceber de que forma e quem vai assumir posições estratégicas no futuro”, um caminho que durou 17 anos e conduziu à actual configuração da União Europeia. “Em 1991, com 12 Estados membros, a União conta agora com 27 Estados e com poderes ampliados”.

“O peso dos votos e a tomada de decisões foi simplificada e está mais transparente”, considera D. Adrianus van Luyn. Com nova configuração, a União Europeia enfrenta desafios “no futuro imediato”.

Os anos de descoberta do processo de construção europeia, foram também de grande importância para as Igrejas que intensificaram o seu diálogo com os Estados membros. A COMECE acredita que o diálogo entre as Igrejas e a UE deve tentar responder aos desafios europeus.

“A nossa missão enquanto membros da COMECE não é estarmos preocupados connosco, ou na salvaguarda de privilégios nas políticas europeias, mas antes tentar introduzir nas políticas europeias o espírito de Jesus que se aplica a todos igualmente”.

Um diálogo aberto é necessário, o que significa que ouvir é tão importante como falar, considerou o Presidente da COMECE. “A abertura é também importante para os processos políticos que se avizinham”. D. Adrianus questionou o contributo da COMECE nesta diálogo.

“Que contributo é esperado? Onde é que as nossa palavras e experiências fazem a diferença? Onde devemos intervir na construção do Bem Comum, para a paz e maior justiça?”.

Desafio identificado no discurso de abertura foi ainda as alterações climáticas, concretamente, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, a decorrer em Copenhaga em Dezembro. “Não haverá consenso em Copenhaga no protocolo que deverá suceder a Quioto. Mas deverá ser possível chegar a uma entendimento político e a claros objectivos, que deverão depois conduzir, ao longo de 2010, a um novo protocolo em Bonn ou no México”.

Apesar dos esforços desenvolvidos pelo Presidente americano Barack Obama, assinalou D. Adrianus, “continua sem se entender qual o compromisso dos países desenvolvidos no combate às alterações climáticas”.

“Sem um compromisso efectivo, em especial da China que é actualmente um dos maiores emissores, não será possível combater as alterações climáticas de forma efectiva”, assinalou o Presidente da COMECE.

Durante o diálogo, em vista à Declaração de Copenhaga, a COMECE debateu-se pelos interesses das gerações futuras e das pessoas nos países em vias de desenvolvimento. 

“Do ponto de vista cristão, tentar mitigar os efeitos das alterações climáticas não assenta em soluções técnicas mas em perceber até que ponto se está consciente e envolvido ao ponto de persuadir as pessoas a adoptar comportamentos e estilos de vida simples”.

Sobre a renegociação do Tratado de não proliferação, que envolve armamento nuclear, o presidente da COMECE alertou. “Não devemos ser ingénuos. Estas negociações são extremamente complexas e o seu sucesso depende se numerosos factores, determinados pela política global e pelo seu desenvolvimento no tempo”.

Permanece um questionamento. “Deveriam as Igrejas e especificamente a COMECE intervir activamente nesta questão?”. D. Adrianus van Luyn recorda a preocupação da Santa Sé nesta matéria, manifestando a necessidade de “passos concretos serem dados para reduzir a ameaça à paz mundial”.

A situação económica da União Europeia foi outro desafio identificado no início da Assembleia de Outono.

“A causa profunda da crise económica é a imagem distorcida de humanidade”. Esta afirmação emergiu dos primeiros Dias Sociais, que decorreram na Polónia.

Com a adopção do Tratado de Lisboa, a União Europeia assumiu a criação de um mercado económico social e sustentável na Europa. Nos próximos meses, as instituições europeias irão encontrar uma nova estratégia para um prazo de 10 anos para o desenvolvimento económico e social, para substituir a Estratégia de Lisboa.

Sobre esta questão está planeada uma cimeira da UE para Março de 2010, em Madrid. Entretanto, a COMECE lançou a proposta de organizar encontros com os representantes do Parlamento sobre a imagem da humanidade e da sociedade, abrindo para uma nova estratégia. “Seria desejável que as Conferências Episcopais organizassem semelhantes contactos com os seus estados membros com vista à Cimeira de Madrid”.

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