Bispos angolanos falam no Sínodo

Trabalhos da assembleia marcados por denúncias de exploração de recursos naturais e corrupção

Dois Bispos angolanos intervieram nos trabalhos do segundo Sínodo africano, a decorrer no Vaticano, apresentando alguns problemas que afectam o seu país e se estendem ao resto do continente, como a exploração dos recursos naturais ou a corrupção.

D. Emílio Sumbelelo, Bispo de Uíje, lembrou as “imensas e múltiplas convulsões populacionais, relacionadas com a guerra”, nos últimos 30 anos, destacando os conflitos inter-étnicos gerados pelas “condições de mal-estar económico e grande desigualdade social”.

Quanto a D. José Nambi, Bispo de Kwito-Bié, o prelado admitiu que “a cultura democrática vai dando passos, embora timidamente”.

“Há políticos desejosos de uma verdadeira mudança da situação, mas outros resistem, são insensíveis e procuram apenas os próprios interesses”, acusou.

O Bispo de Kwito-Bié falou do “analfabetismo no meio rural” e da pouca “educação cívica dos cidadãos”.

D. José Nambi lamentou ainda que o continente africano seja considerado rico, “mas os seus povos continuam pobres”. Nesse sentido, apontou o dedo à “acumulação de riquezas nas mãos de poucas pessoas” e à questão das “terras ocupadas em prejuízo dos pequenos camponeses, o que tem gerado conflitos”.

A mesma preocupação foi manifestada por D. Lucius Iwejuru Ugorji, Bispo de Umuahia (Nigéria), para quem “as multinacionais exploram os recursos naturais na África numa medida que não há precedentes na história”. Ligado a este problema, sublinhou, está a “degradação ambiente da África”.

“Grandes áreas são destruídas devido ao desflorestamento, à extracção do petróleo, assim como ao escoamento do lixo tóxico, dos frascos de plástico e material em celofane. Além disso, a erosão causada pelo homem arrasa os terrenos agrícolas, destrói as estradas e enche de areia as fontes de água. Esses factores empobrecem as comunidades africanas, aumentando as tensões e os conflitos”, alertou.

A crítica aos líderes políticos chegou pela boca de D. Simon Ntamwana, Arcebispo de Gitega (BURUNDI), Presidente da Associação das Conferências Episcopais da África Central. Este responsável lamentou que os políticos “utilizem os conflitos étnicos para conquistar o poder, ou para mantê-lo”.

“Alguns vêem sua função exclusivamente como uma fonte de enriquecimento pessoal, de suas famílias ou amigos. Desta forma, fazem triunfar o clientelismo e o tribalismo sobre os valores autênticos, comprometendo gravemente a paz social”, disse.

D. Berhaneyesus Demerew Souraphiel, Arcebispo Metropolita de Addis Abeba (Etiópia), pediu que o Sínodo “estude as causas que estão na base do tráfico humano, das pessoas deslocadas, dos trabalhadores domésticos explorados (principalmente as mulheres do Oriente Médio), dos refugiados e dos migrantes”.

Os imigrantes estiveram no centro da intervenção de D. Giovanni Innocenzo Martinelli, Vigário Apóstolico de Tripoli (Líbia). Este responsável considera que os fluxos migratórios “revelam uma face de injustiça e de crise sociopolítica na África”.

“Milhões de imigrantes entram na Líbia a cada ano, provenientes dos países da África subsaariana. A maior parte deles foge da guerra e da pobreza do próprio país e chega à Líbia, onde procura trabalho para ajudar sua família ou um modo para ir à Europa, na esperança de encontrar uma vida melhor e mais segura”, referiu.

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