Congresso Internacional no centenário de António Ferreira Gomes Um congresso internacional evocativo do centenário do nascimento de D. António Ferreira Gomes (1906-1989) teve ontem início na Casa Diocesana de Vilar. Ao longo de três dias, diversos especialistas nacionais e internacionais irão debruçar-se sobre o tema “Ser cristão na sociedade aqui e no futuro”, debatendo a vida e a obra do antigo Bispo do Porto num olhar que não esquece a realidade dos nossos dias. D. Serafim Ferreira e Silva, um dos administradores vitalícios da Fundação Spes, fundada por D. António Ferreira Gomes, explica à Agência ECCLESIA que os trabalhos têm decorrido em volta da ideia central de estarmos na presença “de um homem que conhecia a Doutrina Social, que foi precursor, profeta, muito coerente e ousado”. “Seria, porventura, tímido no relacionamento, mas tinha muita coragem de vida interior”, lembra. O primeiro dia de congresso abordou a relação entre a fé cristã e a história da humanidade, com as suas implicações na vida concreta. Hoje, os congressistas debatem questões ligadas à cidadania e à democracia, procurando definir qual o papel da Igreja neste processo. Para D. Serafim Ferreira e Silva é claro que “D. António Ferreira Gomes mantém força e actualidade no seu magistério, algum ainda inédito, mas que a Fundação Spes está cuidadosamente a editar”. Sabendo-se que D. António era um crítico da lusitana mania “comemorante e centenariante”, a celebração deste congresso constitui, para os envolvidos, um desafio suplementar. O Administrador Apostólico de Leiria-Fátima, contudo, assegura que os trabalhos têm “olhado para um presente contínuo”. “As Cartas ao Papa”, por exemplo, manifestam a “actualidade” do pensamento do “Bispo do Porto”, já emérito, mas que, como o próprio dizia, “não tinha perdido o magistério”. Para D. Serafim Ferreira e Silva, a edição desta obra em italiano (está prevista também uma edição em francês) permitirá “surpreender o mundo fora de Portugal, internacionalizando um homem que mantém a actualidade”. O prelado referiu-se ainda a uma das propostas lançadas por um dos conferencistas, em que se pedia que “a hierarquia da Igreja Católica portuguesa reintegre a memória de D. António Ferreira Gomes”. Memória e actualidade A Diocese do Porto e a Fundação Spes, a que se associam o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes e a Fundação Eng.º António de Almeida, promovem este Congresso, entre várias iniciativas para assinalar o Centenário do nascimento de D. António Ferreira Gomes. Na abertura dos trabalhos, o actual Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho, explicou que não estamos na presença de um “Bispo político”, mas antes de um “Bispo pastor”. Já o Bispo emérito de Setúbal e presidente da Fundação Spes (Esperança), D. Manuel Martins, considerou que D. António Ferreira Gomes se apresenta como uma “oportunidade inesgotável para os nossos estudiosos”. À margem da cerimónia, D. Manuel Martins defendeu que a Igreja não cumpriu ainda o legado deixado por D. António Ferreira Gomes. “Não há Governo nenhum que não queira ter a Igreja um bocadinho manipulada e nós, às vezes, não temos a coragem suficiente para nos sujeitarmos a perder tudo aquilo que podemos receber do Estado”, referiu. Esta tarde tem lugar uma celebração eucarística, presidida por D. Armindo Lopes Coelho, na terra natal de D. António Ferreira Gomes, Milhundos (Penafiel). Amanhã será abordada a “Visão Teológica das Cartas ao Papa”, por Marco Salviati da Universidade Pontifícia S. Tomás de Aquino, em Roma, e o tema “A democracia como processo de humanização. Perspectiva Internacional”, por José Alberto Azeredo Lopes. A conferência final está a cargo de D. Carlos Moreira Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa, e terá como título “O futuro de um legado: ser cristão credível”.