A nova encíclica do Papa Bento XVI dirige-se a todos os "homens de boa vontade" e, em particular, aos cristãos que devem lê-la com interesse redobrado. O Bispo do Funchal aconselha, por isso, a sua leitura, ainda mais num tempo em que as questões da "globalização" não deixam ninguém ficar indiferente.
"Penso que as pessoas devem ler na íntegra esta encíclica, que surge no âmbito da Doutrina Social da Igreja (DSI) em geral, como outros importantes documentos, mas, em especial esta que aponta para uma globalização mais acentuada, ainda que com os mesmos princípios da DSI. Com o seu aprofundamento todos beneficiamos deles", considera D. António Carrilho.
Por outro lado, esta primeira conferência sobre a encíclica "Caridade na verdade" (a segunda conferência já está marcada para Setembro) pretendeu inaugurar um ciclo de tantas outras palestras sobre a Doutrina Social da Igreja, anunciou o Bispo do Funchal aos presentes no evento de ontem, na igreja do Colégio. Conhecer os documentos da DSI, nos seus "princípios essenciais e fundamentais" é "dever dos cristãos para um melhor testemunho e acção no mundo de hoje", reconheceu.
A edição portuguesa da mais recente encíclica sobre questões sociais – "Caridade na verdade", é das Paulinas Multimédia e já está à venda no Funchal.
Esta encíclica vem num momento muito importante, foi aguardada com muita expectativa e muito bem acolhida", disse D. António Carrilho ao Jornal da Madeira, a propósito da conferência realizada ontem, ao fim do dia, na igreja do Colégio.
Na opinião do Bispo do Funchal, ela "é importante, na medida em que a crise global que se foi diagnosticando fez com que o próprio Santo Padre aguardasse mais algum tempo para um conhecimento aprofundado da problemática geral da crise"; ao mesmo tempo que se criou uma certa curiosidade sobre "qual seria a proposta do Papa para enfrentar os problemas que esta globalização e esta crise global naturalmente requeriam". Daí que as expectativas fossem plenamente satisfeitas, pois, "ninguém como o Santo Padre se coloca acima de todos os interesses, correntes e ideologias", acrescentou.
Aspectos fundamentais
Nas suas breves declarações ao Jornal da Madeira, D. António Carrilho fez ainda questão de assinalar os pontos essenciais da nova encíclica de Bento XVI. No seu conteúdo, "há apenas uma preocupação: ter presente a pessoa humana na sua dignidade e o bem comum no seu todo".
"Com estes dois elementos, pessoa e bem comum, que considero os dois pólos fundamentais da encíclica, verificamos que tudo se processa em termos de reflexão e de proposta, numa base de valores: a caridade e a verdade", explica o Bispo do Funchal.
Mas, longe de serem contrários, estes dois aspectos complementam-se: "A caridade toca o coração e verdade toca a inteligência. Ambos são importantes e complementares". Por um lado, temos "um conhecimento científico na procura de verdade das coisas; e, por outro, um coração grande para o entendimento pessoal", indica.
Além disso, a encíclica, mais do propor uma mera "ajuda assistencial, que em muitas circunstâncias é necessária, aponta para o desenvolvimento. Um desenvolvimento que seja para todos, que vá ao encontro de todos, isto é, que seja global".
"Por isso é que o Papa diz que a globalização tem de apontar no sentido do relacionamento", em ordem "à construção de uma família humana, em que a partilha se torna verdadeiramente um valor", sublinhou por fim D. António Carrilho ao JM, nas breves considerações que teceu sobre a primeira encíclica social de Bento XVI, tendo ainda recomendado a sua indispensável leitura por todos os cristãos (v. notícia ao lado).
Encíclica centra-se no "homem todo"
A apresentação geral e completa da Encíclica "Caridade na verdade", ontem no Funchal, foi feita pelo Pe. Mário Rui Pedras, assistente nacional da Associação Cristão de Empresários e Gestores na Madeira (ACEGE), entidade que promoveu o evento, juntamente com a nossa diocese e a igreja do Colégio.
Na sua conferência de mais de uma hora, traçou de forma precisa e concreta os principais aspectos do documento papal, com citações oportunas, numa introdução alargada que contemplou também o enquadramento daquela encíclica no vasto conjunto da Doutrina Social da Igreja (DSI), desde os finais do século XIX até hoje.
Falando à comunicação social, antes da conferência, este especialista em DSI, afirmou que a "dimensão social" proposta pela Doutrina da Igreja, "está centrada no homem, na sua integralidade, nas suas diversas dimensões e, como tal, dirige-se a toda a humanidade".
Ainda que não seja da sua competência apresentar "propostas concretas para a mudança da sociedade em que está inserida" a Igreja "tem princípios de orientação acerca da verdade e de tantos outros aspectos que dizem respeito ao homem todo, ao bem comum, ao desenvolvimento integral", pelo que pode indicar critérios "no âmbito moral, ético, até ecológico, e nas situações que exigem responsabilidade e transparência de actuação, para que se evitem situações graves como as que já foram denunciadas há 40 anos pela Populorum Progressio (O desenvolvimento dos povos), encíclica de Paulo VI", lembrou o Pe. Mário Rui Pedras a propósito da "Caridade na verdade".