Bispo do Funchal destaca importância do Catecumenato

Sinal dos novos tempos que é preciso acolher O catecumenado propriamente dito destina-se a convertidos não baptizados. Estes catecúmenos já convertidos à fé ou a uma nova vida cristã precisam de uma iniciação lenta e progressiva. Sem uma comunidade crente e praticante, o catecumenado não tem razão de ser, pois esta caminhada para o baptismo faz-se numa comunidade eclesial. Precisa-se de uma paróquia com sensibilidade missionária e com uma experiência de catequese de adultos para que se crie o catecumenato. O grande escritor Tertuliano afirmava no século III: «Não se nasce cristão, mas torna-se cristão». Esta realidade tornou-se actual, mesmo em dioceses como a do Funchal, onde era prática comum baptizar os filhos ainda crianças. Numa época descristianizada e de forte secularização, com a chegada de imigrantes de países não cristãos, começaram a aparecer vários pedidos de baptismo de adultos. A pastoral catecumenal não se circunscreve apenas aos convertidos não baptizados, que desejam ser cristãos através de um processo de iniciação, inclui também entre nós, a reiniciação dos baptizados e até confirmados que, embora crentes à sua maneira, desejam recuperar a vida cristã. Um movimento recente e de grande expansão no mundo, também presente entre nós, os Neo-Catecumenais, estão a realizar um trabalho admirável que nos alegramos registar. Apesar disso, o catecumenado propriamente dito destina-se a convertidos não baptizados. Estes catecúmenos já convertidos à fé ou a uma nova vida cristã precisam de uma iniciação lenta e progressiva. Sem uma comunidade crente e praticante, o catecumenado não tem razão de ser, pois esta caminhada para o baptismo faz-se numa comunidade eclesial. Precisa-se de uma paróquia com sensibilidade missionária e com uma experiência de catequese de adultos para que se crie o catecumenato. A primeira condição para iniciar esta preparação ao baptismo, é o respeito do catecúmeno tal qual é e como faz o seu pedido, por vezes marcado por angústias e alegrias, certezas e inquietações. Novo sinal dos tempos O catecumenato, embora sem perder uma referência à Igreja das origens, está adaptado à nova evangelização. Para isso a diocese ou paróquia deve estudar caminhos diversificados, porque no centro do catecumenato está a pessoa que se acolhe e se prepara para a iniciação cristã. Em diversas dioceses da Europa, devido à imigração, o fenómeno do catecumenato cresceu, mostrando um «sinal dos tempos» que devemos acolher. É certo que muitos dos imigrantes são muçulmanos e esses não mudam as suas convicções ou tradições religiosas. Mas o fenómeno migratório assume um grande interesse no campo ecuménico e inter religioso. O livro o «Pastor de Ermas», do século II, descreve a Igreja como uma senhora anciã que rejuvenesce sempre que novos filhos se abeiram da fonte baptismal. Um maior número de catecúmenos é um sinal de juventude do Evangelho. Temos de habituarmo-nos a ver na diocese catecúmenos como nos primeiros séculos da Igreja ou nas terras de missão. O caminho do catecumenato, embora relacionado com a paróquia, necessita de pessoas preparadas para o campo da evangelização. A catequese destes adultos não é igual à das crianças baptizadas e exige-se um período longo de preparação e o respeito pelas normas estabelecidas pela Santa Sé. A catequese catecumenal não é apenas uma exposição das verdades da fé e dos preceitos a cumprir, mas uma aprendizagem de toda a vida cristã, durante a qual o discípulo segue a Jesus Cristo seu Mestre e Senhor. Ele aprende a ler os acontecimentos humanos à luz da fé e do Evangelho e a conhecer as linhas gerais da história da salvação. Tem necessidade de amar e familiarizar-se com a Sagrada Escritura. É próprio da catequese de iniciação a consciência da conversão, a transmissão das palavras da fé e a relação com uma comunidade. Catequese quaresmal Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, a Quaresma readquiriu o significado que teve nos primeiros quatro séculos, de preparação para o baptismo e renovação das promessas baptismais. Os ritos de iniciação sucediam-se de maneira diversa nas igrejas particulares. Os ortodoxos não admitem ainda hoje que a primeira comunhão anteceda o Crisma, mesmo para as crianças. Os protestantes dão valor sacramental só ao baptismo e à eucaristia. Os sacramentos da iniciação cristã, o baptismo, crisma e eucaristia, estão ordenados para os adultos exercerem a sua missão na Igreja e no mundo. O «Ritual da Iniciação cristã dos adultos» apresenta degraus ou etapas – o pré-catecumenato, a entrada no catecumenato, a eleição e inscrição do nome no início da Quaresma com as celebrações dos escrutínios e as entregas do símbolo e da oração dominical, e a celebração dos sacramentos de iniciação cristã, seguindo-se o tempo da mistagogia. Tem acontecido que na diocese nem sempre se teve em conta o Ritual da Iniciação e os catecúmenos foram preparados para o sacramento no sábado santo, sem percorrerem o itinerário próprio da iniciação, excepto para a reentrega do símbolo, Pai-nosso e Unção dos Catecúmenos, que eram realizados pelo Bispo em terça-feira santa. Devido ao aparecimento de vários candidatos ao baptismo de adultos, o Catecumenato tornou-se uma urgência na pastoral diocesana. O costume de preparar candidatos ao baptismo sem percorrer as quatro etapas do catecumenato, apresentando os eleitos ao bispo na vigília pascal para o baptismo, não tem mais sentido. Em casos excepcionais, atenta a sinceridade da conversão e maturidade religiosa, o bispo, se assim o entender, pode permitir o ritual simplificado. Os catequistas ou garantes que preparam os catecúmenos, devem conhecer e seguir as orientações do «Ritual Romano da Iniciação cristã dos adultos». A maturidade cristã do catecúmeno deve levá-lo a sentir-se filho da Igreja Universal, mas também de uma Igreja particular, onde foi acolhido, cresceu na fé e se tornou testemunha de Jesus Cristo. Funchal, 9 de Abril de 2006 † Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

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