«Cristo único fundamento da Igreja» O tema deste ano foi escolhido em São Paulo na 1ª carta aos Coríntios (1 Cor. 3, 1-23). O apóstolo coloca «Cristo único fundamento da Igreja». «Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é que faz crescer». «Temos necessidade urgente de profetas e santos, escreveu o patriarca ortodoxo de Antioquia, para ajudar as novas igrejas a se libertar do peso terrestre, para fazer penitência e se converter pelo perdão recíproco». De 18 a 25 de Janeiro somos de novo chamados, igrejas e paróquias, a intensificar a nossa oração para a unidade de todos os cristãos. A rotina pode entrar também neste campo e, até, o sentido de inutilidade. Afinal, após momentos de grande entusiasmo e esperança como no início do século XX e após o Concílio o movimento ecuménico parece navegar em alto mar sem ter ancorado no porto. Não podemos baixar os braços, pelo contrário, temos de elevá-los até Deus. É este o significado da Semana de Orações que vamos iniciar no dia 18 de Janeiro, iniciativa criada há cerca de um século por dois anglicanos. O tema deste ano foi escolhido em São Paulo na 1ª carta aos Coríntios (1 Cor. 3, 1-23). O apóstolo coloca «Cristo único fundamento da Igreja». «Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é que faz crescer». «Temos necessidade urgente de profetas e santos, escreveu o patriarca ortodoxo de Antioquia, para ajudar as novas igrejas a se libertar do peso terrestre, para fazer penitência e se converter pelo perdão recíproco». A Santa Rússia e o ecumenismo 2 – Nos últimos anos temos sido alertados pelas dificuldades que provêm da Igreja ortodoxa russa e da Igreja Católica. A ortodoxia, ou seja o conjunto das igrejas ortodoxas, não é formada apenas pela Igreja russa, mas esta é uma parte importante e mesmo essencial. Foi a ortodoxia que contribuiu eficazmente para constituir o povo russo e a sua cultura e a realizar a sua unidade nacional. Não é sem motivos que grandes escritores se referem à «Santa Rússia». Ainda hoje, este país é a maior igreja ortodoxa, pelo número de fiéis, paróquias e mosteiros. Após a revolução russa, devido à perseguição e à falta de liberdade, a presença intelectual da igreja russa dentro da ortodoxia ficou enfraquecida e ainda não houve tempo suficiente para recuperar o tempo perdido. Persistem ainda as marcas do período comunista nos corpos e nos espíritos, embora oficialmente, esse tempo esteja sepultado. Durante sessenta anos a Igreja russa foi sacrificada, impedida de formar homens e mulheres na verdadeira cultura religiosa. A formação e recrutamento de bispos, padres, e religiosas eram controlados pelo Estado que favorecia a mediocridade, impedia a catequese nas paróquias, proibia o exercício de qualquer actividade caritativa. A Igreja russa considera a modernidade através das influências poderosas do Ocidente, principalmente no campo económico, na invasão das formas de vestuário, alimentação e música. A vida eclesial e o ecumenismo são marcados negativamente pela entrada agressiva das seitas, de certos movimentos chamados evangélicos e até da Igreja Católica. Mas há outras influências que produzem interrogações de nível mais profundo, porque de ordem doutrinal e pastoral, como a crítica bíblica, as reformas litúrgicas, o empenhamento das igrejas ocidentais no campo social, político, defesa dos direitos humanos, luta contra a sida, o alcoolismo, a droga, a prostituição e salvaguarda do ambiente, Na Rússia confunde-se habitualmente o Ocidente com tudo o que vem de fora, tanto as qualidades, como os malefícios e até as taras no campo da sexualidade e desprezo da vida humana, como o aborto. O povo russo está habituado a respeitar a tradição. Ao considerar os perigos que aparecem com a modernidade, é tentado a conservar plenamente os seus ritos, tradições, cânones sinodais e língua litúrgica antiga, o eslavo. Este conservadorismo explica a desconfiança para com os grandes pensadores e teólogos russos que ousam enfrentar a modernidade, tanto dentro como fora da Rússia. Não faltam também sinais de mudança. Já no tempo do regime comunista, alguns bispos e padres que operavam muito discretamente, foram grandes pastores, e hoje começam a favorecer academias de teólogos, centros bíblicos e a participarem em encontros internacionais. Devido à degradação da economia, as paróquias tomam conta dos órfãos, dos drogados, dos prisioneiros libertados. É dentro destes grupos, assim o esperamos, que vão nascer e crescer os arquitectos do novo ecumenismo. A instituição eclesiástica russa é pesada, não favorece iniciativas locais ou adaptações. Em 1917/18 realizou-se o Concílio de Moscovo que não teve ainda tempo para dar os seus frutos. Síntese entre tradição e modernidade 3 – Mas há sinais de esperança. Os peregrinos que, com verdadeiro sentido ecuménico e espiritual, visitam a Rússia, principalmente as grandes cidades como Moscovo e Sant Petersburg e os mosteiros de Zagorsks, Vladimir e Suzdal, encontram sinais de grande vitalidade e esperança. Não foi em vão que a «Santa Rússia» foi regada com o sangue de tantos mártires durante o período comunista. Para conhecer a espiritualidade e alma cristã russa é preciso visitar e orar longamente em Zagorsks, cidade mosteiro onde se encontra o grande herói da santidade São Sérgio de Radoney. Tivemos ocasião de admirar em 2002 as multidões que acorrem a este célebre santuário onde a liturgia é o coração da comunidade, a fonte da sua energia e da sua esperança. Em Sant Petersburg celebramos a missa numa das três igrejas católicas da cidade, junto da maior e mais frequentada estrada da metrópole. No altar colocaram a imagem do Imaculado Coração de Maria e a Igreja era dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Recordamos as palavras de Nossa Senhora: «Por fim o meu Imaculado Coração vencerá». Pouco a pouco o povo russo realiza, à sua maneira, a síntese entre tradição e modernidade. As escolas teológicas vão permitir o diálogo e o encontro com os cristãos do Ocidente, desta forma contribuirão para o verdadeiro ecumenismo e a paz entre os cristãos. Funchal, 16 de Janeiro de 2005 D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal
