A respeito da legaização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, D. Ilídio Leandro lamenta «intervalos» na vida social e política portuguesa
D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, reiterou as suas críticas à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no nosso país, considerando que a política portuguesa está mais preocupada com o espectáculo dos “intervalos” do que com “as realidades”, “muitas e muitas vezes, pesadas, chocantes, difíceis, tristes, cansativas”.
“De facto, tratar como igual o que é diferente, não importa – basta um decreto e uma maioria a jeito… Todas as diferenças são iguais quando queremos”, observa.
Num texto enviado à Agência ECCLESIA, o prelado assinala, num tom irónico, que “agora sim: os casamentos vão aumentar, as injustiças vão acabar, as discriminações vão desaparecer e o governo já pode, finalmente, governar e estar no ‘top ten’ de alguma coisa”.
“ E até parece fácil: é só preciso estar na crista da onda das modas e dar resposta a todas as minorias, fazendo com que sejam, pela lei, aquilo que, pela natureza, as diferenças não deixavam ser”, atira.
Este responsável lembra que “ há muito, baixaram os números dos casamentos em Portugal – religiosos e civis”, ctiando “os entendidos que, para além de outras razões, as pessoas fogem da institucionalização e querem liberdade, autonomia e privacidade”.
“Então, importa consagrar o estatuto das ‘uniões de facto’ para serem mais ‘iguais’ aos ‘privilegiados’ e ‘tradicionais’ casamentos. Justifica-se – para promover e defender direitos, para reconhecer dignidade e para acabar com injustiças e discriminações”, indica.
D. Ilídio Leandro afirma que “não se reconhecem os direitos por serem pessoas, por terem direito à dignidade pessoal, por existirem e serem reconhecidas na sua igualdade com toda e qualquer pessoa humana. Só se tiverem um ‘estatuto’ e se entrarem nesse ‘instituto’. Não querem casar mas têm que se institucionalizar ‘de facto’, ainda que, de facto, envolvam e assumam alguma contradição”.
Numa crítica indirecta ao governo, o Bispo de Viseu diz que para alguns “é necessário arranjar algo mais atraente, mais moderno e mais anómalo para se tornar mais apetecível e se viver um novo ‘intervalo’, cómodo e fácil, para entreter e distrair”.
“Inventa-se uma novidade que até já ‘os nossos amigos’ têm e que, enquanto não implementada, nos classifica como País atrasado, injusto, discriminatório e persecutório… Então, vamos meter nas estatísticas dos ‘privilegiados’ e ‘tradicionais’ casamentos todos os que se amam e são os discriminados, desabrigados, injustiçados e perseguidos dos nossos tempos”, comenta.
Mais à frente, D. Ilídio aponta mesmo o dedo a “um governo moderno e atento aos ‘intervalos’: anular as diferenças, alterar as leis, rever as constituições, mudar os códigos e embarcar nas novas culturas e mentalidades, alterando as tradições e as civilizações e tornar tudo isto ‘justo’ porque sim, ‘assim’ porque sim”.
O Bispo de Viseu diz que as prioridades passam pelas respostas para “as crises, as desigualdades sociais, as famílias que não conseguem responder ao futuro dos seus filhos, os desempregados que não param de aumentar, as empresas que estão – uma e outra – a fechar”.
O prelado recorda também “a pobreza envergonhada que não consegue ter vez nem voz nem justiça, os jovens que não têm respostas nem soluções, o interior desertificado que não tem justiça nem esperança, os idosos que morrem esquecidos, a justiça que não é nem justa nem atempada, a corrupção que nos prejudica a todos, os salários que sobem para uns e não existem para outros, os empregos fictícios que se criam a propósito, as ‘novas oportunidades’ sem oportunidade”.
“Isto são realidades que terão direito no seu tempo e em melhores dias e se e quando não houver outros ‘intervalos’”, lamenta.
D. Ilídio Leandro assegura que “felizmente para um governo que se preze, ainda que, infelizmente, para um País adormecido e irreferendável”, os “intervalos” seguem “dentro de momentos”.