Concelho é o mais atingido pela decisão governamental e D. Jacinto Botelho entende que a decisão agrava desertificação do interior
O Bispo de Lamego alertou para as implicações familiares e sociais do encerramento de escolas primárias, uma decisão governamental com particular incidência no Concelho, onde encerram 21 estabelecimentos.
“Estamos a retirar das nossas populações, já tão carenciadas e esquecidas, um meio que ainda poderia ser um factor de atracção, pelo que o encerramento das escolas é um factor que no futuro contribuirá, sem dúvida, para uma maior desertificação”, sublinha D. Jacinto Botelho, em declarações à Agência ECCLESIA.
O prelado, que ficou surpreendido quando soube que o concelho lamecense é o mais afectado pela decisão, critica o encerramento generalizado de estabelecimentos com menos de 21 estudantes, embora reconheça que a medida é positiva no caso de as escolas agora fechadas não terem “o mínimo de condições”.
As consequências familiares da medida são uma das principais preocupações de D. Jacinto Botelho: “O retirar as crianças aos pais implica afastá-los do ambiente próprio da sua educação, onde elas poderiam crescer de forma normal”.
O prelado alerta para a retenção dos alunos durante “praticamente todo o dia” nos centros escolares para onde vão ser transferidos e para a distância entre a residência e os estabelecimentos de ensino, que poderá “obrigar as crianças a levantar-se demasiadamente cedo”.
D. Jacinto Botelho também manifesta a sua perplexidade pelo facto de o Governo apontar para a necessidade de travar a desertificação das regiões do interior ao mesmo tempo que executa uma medida que, no seu entender, vai estimular o abandono das povoações afastadas dos centros urbanos.
“É um valor que existia nas nossas comunidades e que se vai perdendo” lamenta o prelado, que não esconde a “tristeza” pelo fecho dos 21 estabelecimentos de ensino no concelho.
Este responsável defende que os estabelecimentos de ensino com mais de dez crianças deveriam permanecer abertos: “Se há mais de uma dezena de alunos num lugar, dá-me a impressão de que deveriam continuar com as escolas existentes”.
Para D. Jacinto Botelho, esta é “uma questão complexa para a qual é preciso haver um discernimento muito equilibrado, sem sentimentalismos exacerbados, mas ao mesmo tempo com a preocupação de procurar ver a realidade”.
“Tudo o que seja em favor de uma melhor educação é óptimo. Mas é preciso que ela ajude ao crescimento em muitos aspectos”, realça.
No entender do prelado, a causa destes encerramentos está na diminuição da natalidade, situação que por sua vez radica numa questão moral: “Há um grande egoísmo por parte das famílias na questão da paternidade, pelo que hoje os filhos são muito menos”.
As Direcções Regionais de Educação divulgaram esta Quarta-feira a lista dos 701 estabelecimentos de ensino que vão encerrar no próximo ano lectivo, ao abrigo do programa de reordenamento da rede escolar.
A região Norte será a mais afectada, ao ver 384 escolas a fechar portas no início do próximo ano lectivo. No Centro serão encerradas 152 escolas, na região de Lisboa e Vale do Tejo outras 121, no Alentejo 32 e no Algarve 12.