Bispo de Cartum lembra drama sudanês

O Bispo auxiliar de Cartum, D. Daniel Adwok, lembrou este Domingo o drama do povo sudanês, marcado por uma guerra civil que teima em não dar lugar à paz. “Actualmente há paz mas ainda só está no papel. Há certos pontos-chave do acordo que ainda não foram implementados pelo Governo de Cartum. A questão da diversidade religiosa no país não foi convenientemente tratada e provavelmente permanecerá um factor de divisão”, alertou o Bispo sudanês, que presidiu a uma celebração eucarística na Sé de Lisboa. D. Adwok encontra-se em Portugal até ao próximo dia 9 de Dezembro, a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. Após indicar que “as causas da guerra foram complexas: raciais, económicas, religiosas (embora as instâncias internacionais tenham desvalorizado este aspecto) e políticas”, o auxiliar de Cartum lembrou que a arquidiocese “tem ainda um considerável número de pessoas deslocadas (cerca de 2 milhões) e ocupou-se principalmente da educação das crianças”. Este responsável diz que, nestes anos de guerra civil, a Igreja do Sudão “não agiu sozinha para ajudar o povo”. “Muitas organizações católicas não-governamentais da Europa e da América ajudaram-na generosamente. Uma delas foi a Ajuda à Igreja que Sofre. Foi para celebrar a sua fundação,há 60 anos, que eu vim ao vosso amado país, e para agradecer em nome de todos os seus beneficiários”, reconheceu. D. Daniel Adwok tem sido uma voz incómoda para o regime, denunciando as falhas de quem governa o Sudão no que diz respeito à construção de um país próspero e pacífico. Em entrevista à secção portuguesa da AIS, este responsável acusa o governo de Cartum de “querer fazer do Sudão um Estado islâmico, custe o que custar”. O Partido do Congresso Nacional, parte da Frente Islâmica Nacional de Hassan El Tubabi, chegou ao poder por um golpe militar, em 1989, e prossegue desde então uma política de islamização das instituições “públicas ou privadas”. O prelado considera que há a tentativa de “fazer reviver a civilização árabe e islâmica no Sudão, sem espaço para quaisquer outras religiões ou culturas”. Ao longo da sua estadia em Portugal, o Bispo sudanês passa por Lisboa, Porto e Fátima, onde presidirá a diversas celebrações litúrgicas e manterá encontros com responsáveis da Igreja em Portugal. Marca ainda presença em várias conferências sobre a situação da Igreja no Sudão e no lançamento de dois livros: “Por causa do meu nome. Perseguição aos cristãos nos dias de hoje”, de Reinhard Backes (AIS), e “Sudão. Não fechar os olhos”, do jornalista Octávio Carmo.

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