Bispo da Guiné-Bissau fala em «ano traumático»

Vaticano atento à situação no país lusófono

Pela primeira vez uma delegação oficial da Santa Sé esteve presente na tomada de posse de um Presidente da República da Guiné-Bissau. O dia 8 de Setembro deu posse a Malan Bacai Sanhá como Presidente guineense, na presença do Núncio Apostólico do Ghana, D. Léon Badikebele Kalenga e do Secretário da Nunciatura Apostólica, com sede em Dakar, o Pe. Yovko Pishtiyski.

D. Pedro Zilli, Bispo da diocese de Bafatá, na Guiné-Bissau, de passagem por Portugal, assinala à Agência ECCLESIA o sinal de esperança “no país e no povo guineense” mas também a chamada de atenção.

“A situação do país tem de ser desenvolvida. Precisamos sair do ano traumático e complicado que foi o ano 2009, com a morte de um Presidente, de um General e de um deputado da nação”, recorda o Bispo. A presença da Santa Sé na tomada de posse de Malan Bacai Sanhá significa uma “esperança no povo, no país e na classe dirigente mas ao mesmo tempo uma chamada de atenção para a necessidade de vivermos melhor”.

Após as mortes do Presidente Nino Vieira e do Estado-Maior General das Forças Armadas, o general Tagmé Na Waié, em Março, a Guiné-Bissau viveu novo período de instabilidade social. Mas na Guiné, “tudo pode mudar de um dia para o outro”, aponta o bispo.

“A população está tranquila e participou nas eleições com tranquilidade, com respeito pelos votos, apesar de uma abstenção na ordem dos 40%”. Também entre a classe dirigente “registou-se diálogo”, assinala D. Pedro Zilli. “Não sei o que pode acontecer amanhã. Agora vejo uma tranquilidade e esperança no povo”.

Segundo o Bispo de Bafatá a própria democracia “é um caminho”. Na Guiné-Bissau a democracia é jovem, tem 30 anos. Estamos a caminhar”. Apesar de jovem, D. Pedro regista sinais positivos. “O povo da Guiné quer um caminho melhor, tranquilidade e estabilidade”.

Também a Igreja Católica quer dar o seu contributo na restauração de confiança. D. Pedro Zilli assinala a confiança que o povo manifesta na classe dirigente. “A classe é que por vezes gera decepções, o que não cria confiança. Para que a confiança surja, há que a merecer”.

A Igreja Católica é um interlocutor de confiança e objecto de grande respeito por parte de todos -“povo, dirigentes políticos, também entre os muçulmanos, somos todos estimados, tanto bispos, como missionários”.

Presentemente, Carlos Gomes Júnior, Primeiro-ministro guineense visita as instituições em Bissau. “Este é um sinal de estima do governo em relação à actividade da Igreja”, traduz. “Há confiança na actuação da Igreja porque acreditam que o dinheiro e as ajudas chegam a quem verdadeiramente precisa”, sublinha. Ao contrário do que acontece com o Estado.

“Fico contente pela confiança depositada na Igreja, mas triste porque o Estado deveria merecer essa confiança, uma vez que é ele quem deve conduzir uma nação”.

O fenómeno da corrupção é um dos grandes problemas neste país africano. Sendo um fenómeno mundial, “há na Guiné, uma corrupção que é combatida e a que não é combatida. O Estado tem dificuldades em combater a corrupção. Essa é uma luta do novo presidente e do governo”, centra.

Fechar o passado para caminhar rumo ao futuro

Sobre os inquéritos às mortes do Presidente Nino Vieira e do general Tagmé Na Waié, D. Pedro Zilli questiona “a vontade efectiva de encerrar os processos e as condições para conhecer os resultados”.

“Mexer nisso significa mexer num ninho de vespa. Tem muita gente envolvida”.

A Igreja tem insistido para que “a verdade seja dita”. O próprio Presidente Malan Bacai Sanhá assinalou a necessidade de “se apurar a verdade” mas não sendo um processo simples “a conclusão e a verdade daria uma tranquilidade ao povo. Espero que isso aconteça”.

Também as Forças Armadas têm “força demais”, assinala o bispo.

Uma das medidas que tem sido desenvolvida na Guiné-Bissau aponta uma mudança nas Forças Armadas e de Segurança. A criação de um fundo de pensões vai possibilitar a reforma de efectivos e a redução do contingente.

D. Pedro Zilli aponta que o “país não precisa de tantos efectivos e deverá haver uma maior distribuição do poder. Cada um deve ter o espaço suficiente para exercer a sua actividade”, sustenta, garantindo que também as Forças Armadas “estão convencidas que deverão ocupar seu lugar e não estar em todo o lugar”.

O espaço e a tranquilidade para governar o país “depende, e muito das Forças Armadas, e eu espero que novo Presidente da República tenha esse espaço”.

Pequena Igreja para muitas tarefas

A Igreja Católica na Guiné é pequena. A sua actuação em muito se deve à ajuda externa que o país recebe através das Igrejas lusófonas e das instituições ligadas à Igreja Católica. A comunhão lusófona permite dar sinais de um trabalho “conjunto que está a ser desenvolvido” e garantias de “continuidade”.

D. Pedro Zilli lamenta “as poucas estruturas, meios e pessoas”, mas assinala que apesar de o compromisso efectivo envolver poucos “ainda assim, fazemos bastantes coisas”.

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Agência ECCLESIA

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