Institutos religiosos e missionários preocupados com as populações mais pobres A AEFJN (Rede África-Europa Fé e Justiça) está a desenvolver uma campanha que visa alertar para os riscos da aposta nos biocombustíveis sobre as populações mais pobres, frisando que a nova política energética europeia pode colocar em causa “o direito à alimentação dos africanos e dos países mais pobres”. Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, a organização explica que o objectivo é sensibilizar as instituições comunitárias para a necessidade de modificar a actual proposta de directiva da UE sobre política energética, “de modo a obtermos a garantia de que este direito (à alimentação) será protegido nos países Africanos”. “Caso tal não seja viável, pedimos que adoptem o mais depressa possível uma moratória na importação do biocombustível”, acrescenta a AEFJN. Os religiosos denunciam que “algumas empresas europeias aproveitam a falta de conhecimento dos agricultores africanos para os comprometerem com contratos que podem ir até aos 30 anos, retirando-lhe o controlo da produção e dos preços de comercialização”. Missionários e religiosos lembram que “a situação energética a nível mundial passa por uma grave crise. A subida do preço do petróleo e a diminuição das reservas dos cereais, poderão trazer graves consequências para os países mais pobres”. ““Estamos seriamente preocupados com a política de energia que a União Europeia está a implementar. Ao promover o uso dos biocombustíveis, dentro dum enquadramento legal, está a encorajar, em África, a expansão do cultivo intensivo para a exportação”, assinalam. Ministros e europarlamentares trabalham o texto da directiva da UE para a energia. Em breve irão participar em dois importantes eventos internacionais sobre bioenergias: em Maio, o Comité das Nações que procuram um acordo sobre as regras internacionais acerca da Diversidade Biológica, vai analisar o tema «Bioenergias os e Biocombustíveis»; em Julho, o G8 abordará a «Alteração do Clima e a Sustentabilidade». “Apostar na produção agrícola para fabricação de biocombustíveis como alternativa aos combustíveis fósseis, tornará mais difícil o acesso à água potável e a terras férteis para a produção alimentar necessária”, alerta a AEFJN. “O cultivo de produtos para biocombustíveis provoca a inflação do preço dos alimentos nos mercados locais e isto num ambiente em que os consumidores – os que compram produtos agrícolas para alimentação, mas não vendem – representam, em África, cerca de 40% da população”, prossegue. Neste sentido, a organização assinala que “é fundamental mobilizar a sociedade civil para esta questão de consequências imprevisíveis”. A AEFJN, que reúne 50 congregações missionárias e fala em nome de 30 000 religiosos e religiosas que trabalham na Europa e em África, já recebeu uma carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros como reacção à primeira carta desta campanha. A Rede África-Europa Fé e Justiça foi criada em 1988 por vários institutos religiosos e missionários. Hoje engloba institutos que trabalham na África e na Europa e pretendem promover a justiça nas relações entre os dois continentes. Dispõe de um comité executivo e de um secretariado internacional com sede em Bruxelas, e de antenas nacionais em 11 países europeus, incluindo Portugal. Na sua acção de informação e advocacia, a AEFJN inspira-se na doutrina social da Igreja católica e tem como objectivo reunir e disseminar, entre as forças sociais e políticas europeias e africanas, informação sobre os dossiers mais relevantes das relações bilaterais entre a África e a Europa. Por isso, tem-se ocupado das questões relativas ao comércio, à alimentação e à saúde, ao controle do comércio das armas e dos recursos económicos na África.