Mary Anne d’Avillez
Tornou-se comum na nossa sociedade que os jovens, muitos deles menores de idade, saiam com os amigos com o firme propósito de se embebedarem. Embora o consumo de álcool a nível nacional tenha decrescido, este comportamento de consumo esporádico excessivo de bebidas alcoólicas (binge drinking) tem aumentado, especialmente entre as raparigas, e preocupa muito os dirigentes do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), agora também responsável pelos problemas ligados ao álcool.
Tradicionalmente, em Portugal, os jovens começavam a beber vinho em casa, à refeição, e assim aprendiam a lidar com o álcool com a supervisão dos pais. Obviamente que sempre houve abusos no consumo do álcool por outros grupos da população, mas este tipo de comportamento na faixa etária dos 15 aos 29 anos, que acontece fora de casa e longe da família, por vezes levando a coma alcoólico com a necessidade urgente de assistência médica e a casos de alcoolismo ainda durante a adolescência, não era comum entre nós.
O Coordenador Nacional do IDT, Dr. João Goulão, pediu que a sociedade civil se mobilizasse para ajudar na prevenção do uso nocivo do álcool. Acho que como pais, avós, educadores e formadores temos que nos interrogar sobre a nossa responsabilidade neste assunto. Como é que jovens menores de idade têm acesso a bebidas espirituosas com alto teor de álcool sem conhecimento dos pais? Como é que aqueles que já têm idade legal (16 anos) para consumir estas bebidas, as abusam desta forma sem intervenção dos adultos responsáveis? Será que os pais sabem onde os filhos estão e com quem andam? Será que os vêem chegar a casa e em que estado?
Felizmente houve um decréscimo na toxicodependência entre os jovens que, com toda a razão, continua a preocupar pais e educadores mas, ao contrário do que acontece com a droga, existe uma certa complacência em relação ao abuso do álcool. Aprender a beber e a distinguir entre as diferentes bebidas alcoólicas é uma lição importante. Não “achar graça” a bebedeiras é outra. Na União Europeia o consumo nocivo de bebidas alcoólicas é responsável por cerca de 10% das mortes entre raparigas dos 15 aos 29 anos e 25% – um quarto – das mortes em rapazes da mesma idade.
Tudo o que afecta negativamente o corpo afecta negativamente o espírito pois somos um todo – corpo espiritualizado ou espírito encarnado. Assim, lembrando que nos é pedido respeito pela dignidade de cada pessoa e uma Nova Evangelização, temos que nos preocupar com a saúde corporal/espiritual dos nossos jovens e para isso acontecer temos que olhar para a saúde corporal/espiritual da sociedade como um todo. Porquê esta procura de fuga ao que os rodeia através do álcool? Qual a razão desse vazio interior? Porquê esta ausência dos pais na vida dos seus filhos?
As paróquias que estão próximas das famílias através dos seus grupos de jovens, catequese, preparação para o crisma, grupos de escuteiros, etc., são um lugar privilegiado para a formação nesta área da protecção da dignidade da pessoa como um todo, pois o vazio existencial que estes jovens sentem só pode ser totalmente preenchido pelo amor de Deus e esse é mais facilmente descoberto através da experiência de relações sãs e afectivas que não se encontram no álcool.
Mary Anne d’Avillez, R
Representante da Conferência Episcopal no Conselho Nacional para os Problemas da Droga,
das Toxicodependências e do Uso Nocivo do Álcool