Especialistas alertam para «desconhecimento do contexto em que nasceram os textos»
Lisboa, 02 jun 2025 (Ecclesia) – A comissão coordenadora da tradução da Bíblia, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), lançou hoje a nova versão do texto do Génesis, primeiro livro da Bíblia, alertando para o “desconhecimento do contexto” em que o mesmo nasceu.
“As discussões sobre a responsabilidade do judaísmo-cristianismo na inquinação do planeta terra, a relação da ciência com a Bíblia e as teorias do evolucionismo e do criacionismo, bem como as do big bang, têm a ver com as narrações da criação do mundo e da humanidade nos primeiros onze capítulos do Génesis”, indicam os especialistas, na introdução ao texto divulgado neste mês de junho.
Os tradutores destacam a “importância e atualidade” do livro do Génesis, do qual partem “várias linhas de força teológicas”.
“A religião, a arte e a cultura recorrem à inspiração do Génesis para explorar e articular conhecimentos sobre a vida humana”, indicam.
O desconhecimento do contexto em que nasceram os textos do Génesis gerou tensão entre o seu sentido original e as interpretações posteriores. Estas mantiveram viva e fresca a força dos relatos, mas divergem significativamente do horizonte cultural que produziu o seu sentido original.”
Os especialistas da CEP sublinham o “estilo narrativo” do primeiro livro da Bíblia e a sua “força antropológica”, precisando que este “fundo cultural, literário e religioso deve ser tido em conta na sua interpretação, pois o que um texto quer dizer depende também daquilo que está por trás dele e que o ilumina”.
“Motivos literários, temas, conceções cosmológicas, religiosas e culturais (criação de todos os seres pela divindade, o conhecimento como distintivo do ser humano em relação aos outros seres, a grandeza e os limites da vida humana, união sexual entre seres divinos e mulheres, um dilúvio, genealogias…) remetem para o contexto histórico do Próximo Oriente antigo, o chamado mundo bíblico”, refere a equipa de tradução.
No judaísmo, o livro do Génesis é designado pela expressão inicial, bere’shit (“No princípio”).
O título Génesis vem da tradução grega dos Setenta (assumido pela tradução latina) e resume o seu conteúdo: origem do universo, da humanidade e de Israel.
No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra estava caótica e vazia, as trevas pairavam por cima do abismo e um vento impetuoso soprava sobre a superfície das águas.”
A comissão coordenadora distingue duas partes no livro do Génesis: do capítulo 1 ao 11, a “história das origens”; dos capítulos 12 a 30, as “tradições patriarcais”, com os ciclos de Abraão, Isaac e Jacob (12-36) e a história de José (37-50).
A tradução provisória está disponível para download no site da Conferência Episcopal Portuguesa, podendo sugestões e comentários ser enviados através do endereço eletrónico [email protected].
A Comissão Coordenadora da Tradução da Bíblia da CEP convida a comunidade a “envolver-se no processo de tradução e revisão deste documento e dispõe-se a acolher o contributo dos leitores, em ordem ao melhoramento da compreensibilidade do texto”, refere uma nota enviada à Agência ECCLESIA.
Em março de 2019, a Conferência Episcopal Portuguesa apresentou o primeiro volume da nova tradução da Bíblia em português feita por 34 investigadores a partir das línguas originais, com a publicação da edição de ‘Os Quatro Evangelhos e os Salmos’.
Desde agosto de 2021, um novo livro da Bíblia é disponibilizado mensalmente em formato digital e divulgado pela Agência ECCLESIA.
OC