Bento XVI, um ano de silêncio

Recolhimento do Papa emérito é visto como «exemplar» por vários responsáveis

Lisboa, 10 fev 2014 (Ecclesia) – O Papa emérito Bento XVI, que anunciou a sua renúncia ao pontificado a 11 de fevereiro de 2013, está a manter uma vida de recolhimento e silêncio público vista como “exemplar” por responsáveis e especialistas católicos.

D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, vê nesta atitude uma “enorme coerência” por parte do Papa alemão.

“Ele tem sido exemplar, como Papa emérito, como foi exemplar no exercício do pontificado, dentro daquilo que é a sua maneira de ver e sentir as coisas, quer na lucidez com que considerou que não estava em condições de exercer um ministério tão exigente”, refere à Agência ECCLESIA.

Bento XVI apresentou a sua renúncia durante uma reunião com várias dezenas de cardeais, que tinha sido convocada para aprovar a canonização de três beatos: o agora Papa emérito afirmou, em latim, que as suas forças devido à idade avançada, já não eram “idóneas” para exercer adequadamente o seu ministério, que chegaria ao fim a 28 de fevereiro.

O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), padre José Tolentino Mendonça, define a renúncia de Bento XVI ao pontificado como um gesto “profético”.

“É um grande gesto profético porque mostra que a vida não acaba com a chamada vida ativa em que fazemos, produzimos, construímos mas que a vida humana também precisa de outras dimensões: o testemunho que ele dá é um testemunho de humildade, de desprendimento mas de uma grande sabedoria espiritual”, assinala.

Para o franciscano Joaquim Carreira das Neves, biblista e teólogo, o silêncio de Bento XVI é agora o de um monge.

“Eu vejo este deserto do Papa como um deserto a florir no meio da própria Igreja”, sustenta.

Rita Figueiras, professora e investigadora da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, destaca a opção de Bento XVI de abdicar por completo de qualquer espaço no “palco mediático”.

“Há aqui um efeito poderoso do silêncio: no momento em que todas as pessoas podem ter acesso ao espaço público, em que é extremamente acessível mostrar uma imagem ou uma opinião, o que é mais significativo é a opção de não o fazer”, afirma à Agência ECCLESIA.

O Papa emérito tem sido alvo de críticas em várias publicações e nas redes sociais, fruto de várias comparações ao seu sucessor, Francisco.

O mais recente episódio envolveu a revista norte-americana «Rolling Stone», que faz manchete com o Papa Francisco, na sua edição de fevereiro, e elogia a sua “revolução suave” num artigo que ridiculariza Bento XVI.

Segundo o padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, a publicação “desqualifica-se a si mesma”, lamentando em particular as críticas “surpreendentemente agrestes” ao Papa emérito, que chega a ser comparado a uma personagem de um filme de terror.

Rita Figueiras entende que este contraponto entre os dois Papas decorre do próprio discurso dos media: “Nesta fase da narrativa, digamos assim, a narrativa é da diferença. Julgo que virá o dia em que a narrativa será o que é que há de próximo”.

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Morujão, considera que o recolhimento a que Bento XVI se entregou tem um significado profundo.

“Saber viver a nossa dimensão profunda, darmos atenção a Deus, aos outros, sem vivermos num rodopio, é um exemplo para nós que estamos empenhados em fazer tantas coisas”, declara. 

MD/JCP/HM/OC

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Agência ECCLESIA

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