Texto divulgado em fevereiro de 2022 deixou pedido de «perdão» a todas as vítimas
Cidade do Vaticano, 31 dez 2022 (Ecclesia) – O Papa emérito Bento XVI, falecido hoje, publicou em fevereiro de 2022 uma carta pública, na qual respondia às acusações de má gestão de casos de abusos sexuais, enquanto arcebispo de Munique, pedindo perdão a todas as vítimas destas situações.
“Mais uma vez, posso apenas expressar a todas as vítimas de abusos sexuais a minha profunda vergonha, a minha grande dor e o meu sincero pedido de perdão. Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Tanto maior é a minha dor pelos abusos e os erros que se verificaram durante o tempo do meu mandato nos respetivos lugares”, assinala o texto.
Bento XVI sublinhou que “cada caso de abuso sexual é terrível e irreparável”.
“Para as vítimas de abusos sexuais, vai a minha profunda compaixão e lamento cada um dos casos”, acrescenta.
Um relatório independente sobre abusos sexuais na arquidiocese católica de Munique e Frisinga, na Alemanha, foi publicado a 20 de janeiro deste ano, questionando a gestão destes casos pelo então arcebispo Joseph Ratzinger, Bento XVI, durante os cinco anos em que esteve à frente dessa comunidade.
O Papa emérito respondeu às questões levantadas pela comissão com um ‘Pró-memória pessoal’ de 82 páginas, tendo sido acompanhado por uma equipa de peritos para estudar e analisar a perícia quase 2 mil páginas.
Os colaboradores de Bento XVI consideram como “falsas” todas as imputações apontadas pela comissão independente ao então arcebispo Ratzinger.
O Papa emérito admite um “lapso” a propósito da sua participação numa reunião em 15 de janeiro de 1980, lamentando que essa “distração” tivesse sido utilizada para o colocar em causa e apresentar como “mentiroso”.
A carta agradece pelas várias manifestações de apoio recebidas nas últimas semanas.
“Sinto-me particularmente agradecido pela confiança, o apoio e a oração que o Papa Francisco me expressou pessoalmente”, escreve.
O Papa emérito evoca os encontros com vítimas de abusos sexuais, nas suas viagens apostólicas, mostrando-se impressionado com as mesmas.
“Observei nos olhos as consequências de uma tão grande culpa e aprendi a compreender que nós mesmos somos arrastados por esta tão grande culpa quando a negligenciamos ou não a enfrentamos com a necessária decisão e responsabilidade, como aconteceu e acontece com muita frequência”, adverte.
A carta foi o último texto do falecido Papa a ser divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé.
Bento XVI renunciou ao pontificado em fevereiro de 2013 e completou 95 anos de idade, a 16 de abril.
No livro-entrevista ‘Últimas conversas’ (2016), do jornalista Peter Seewald, o Papa emérito destaca que, durante o seu pontificado, 400 sacerdotes foram demitidos do estado clerical, nos EUA, por causa dos casos de abusos sexuais.
OC