D. Rino Passigato, novo Núncio Apostólico, fala da eventual visita do Papa, da Concordata e das relações Igreja-Estado Bento XVI espera vir a Portugal proximamente. O próprio Papa comunicou-o ao actual Núncio Apostólico em Portugal, na audiência que lhe concedeu antes de chegar a Lisboa, há pouco mais de um mês. “Eu fui recebido pelo Santo Padre antes de vir para Portugal e ele disse-me: espero poder ir a Portugal num futuro próximo”. Sem datas marcadas, Bento XVI quer estar na “terra de Santa Maria”, “num futuro não remoto”. “Há um desejo firme, um propósito mesmo do Santo Padre”, garante D. Rino Passigato, numa entrevista concedida ao Programa ECCLESIA, a primeira desde que chegou a Portugal, um país que acolheu o Núncio Apostólico “com grande carinho”. “E têm todo o carinho do Núncio”, expressou num português “elementar”, porque é o primeiro país de expressão portuguesa onde está em missão diplomática. Concordata D. Rino Passigato chega a Portugal num momento em que as relações Igreja-Estado estão fortemente marcadas pelo processo de regulamentação da Concordata. Assinada em 2004, ela “foi um ponto de chegada, muito importante, de acordo”. Para o Núncio Apostólico, “essa vontade de acordo existe ainda” e preside ao trabalho de traduzir em leis e decretos-lei os termos da Concordata. “Há a comissão [paritária] e esperamos todos que o trabalho se faça seriamente. E sei que todas as pessoas comprometidas têm a melhor vontade para fazer bom o trabalho”, garantiu D. Rino Passigato, referindo também que “o tempo para fazer bem as coisas é necessário, é preciso um certo tempo!”. Conhecedor de aspectos circunstanciais que motivaram atrasos neste processo, como a mudança de membros da Comissão Paritária, refere que “todas as pessoas que trabalham, da parte do governo e da parte da Igreja estão comprometidos e querem avançar bem e chegar a uma solução”. Para o Núncio Apostólico em Portugal, interessa valorizar a presença dos católicos na sociedade, mais do que permanecer ligado a enquadramentos legais – ou à falta deles – da presença eclesial em diferentes contextos da sociedade. “Os católicos em Portugal representam, de um ponto de vista sociológico, 80, 85% da população. É uma realidade, que tem de ser expressa em todas as circunstâncias, em todas as situações: nas escolas, nos hospitais, nas cadeias, no exército, etc… É uma realidade!” Relações Igreja-Estado “Boas, muito boas” – é assim que o Núncio Apostólico avalia as relações entre os dois Estados: Portugal e o Vaticano. “Ainda não trabalhei muito nesse terreno, mas sei que são relações muito cordiais”. D. Rino Passigato recordou a visita do Presidente da República ao Vaticano, sobre a qual falou com Cavaco Silva quando apresentou as Cartas Credenciais (a 8 de Janeiro). “Pude dar-me conta que o Senhor Presidente ficou com a impressão que o Santo Padre está muito interessado e informado sobre a situação em Portugal e segue-a com mutio interesse”, recordou. “As relações entre a Igreja, o Vaticano, e Portugal, neste momento são boas, muito boas”, sublinhou. Na Terra de Santa Maria Conhecedor da história “muito rica, muito importante” da Igreja Católica em Portugal, Rino Passigato evoca também a “língua tão maravilhosa”. “A língua de Camões, de Pessoa e muitos escritores e literatos”, em que agora se começa a exprimir. Refere igualmente a marca mariana da fé dos portugueses, típica “característica da fé católica”, que ajuda quando amadurecida e responsável. “Temos uma promessa, de Nossa Senhora, em Fátima, que assegura que o seu coração vai triunfar e que Portugal ficará católico, crente, cristão”. “Os cristãos em Portugal, se mantiverem firme o amor a Nossa Senhora, creio que vão manter também viva a sua fé, que nos leva directamente a Jesus. Maria não quer uma devoção a ela mesma, para ser o fim dessa devoção. Ela é a Mãe do Salvador e nos conduz a Jesus, o único salvador do homem”, referiu. Perfil O Arcebispo italiano, de 64 anos, era Núncio Apostólico no Peru e foi nomeado como representante diplomático do Papa em Lisboa no dia 8 de Novembro de 2008. D. Rino Passigato nasceu em Bovolone, Itália. Ordenado padre em Verona, no dia 29 de Junho de 1968, foi nomeado Arcebispo em 1991. Antes de chegar a Portugal, passou pelas Nunciaturas da Bolívia (1996-1999) e do Peru (1999-2008). D. Passigato sucede ao também italiano D. Alfio Rapisarda, que renunciou ao cargo por ter atingido o limite de idade determinado pelo direito canónico, 75 anos de idade, no passado dia 2 de Setembro.