Bento XVI: Renúncia deixa questões por responder na Igreja Católica

Jornalista Octávio Carmo diz que decisão gerou «perplexidades» mas liga-a ao primado da consciência defendido pelo Papa

Lisboa, 21 fev 2013 (Ecclesia) – A renúncia de Bento XVI ao pontificado gerou “perplexidades” e deixou questões por responder no seio da Igreja Católica, por ser a primeira em séculos, considera o jornalista Octávio Carmo, da Agência ECCLESIA.

“É natural que esta decisão não tenha só pontos positivos: causa perplexidades, tem dificuldades práticas e poderia trazer, esperemos que não, dificuldades sob um ponto de vista hierárquico, teológico”, refere ao programa ECCLESIA que pode ser visto hoje na RTP 2 (18h00).

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, tem revelado ao longo dos últimos dias que o atual Papa e a Santa Sé estão a estudar questões relacionadas com o tratamento a dar a Bento XVI após o final do pontificado ou a possibilidade de antecipar o início do Conclave.

Octávio Carmo entende que é necessário esperar para determinar com precisão qual a “marca que esta decisão” de Bento XVI vai deixar para o futuro e disse discordar de leituras “laicizantes” da figura do Papa, a partir desta abdicação.

“Esta não é uma decisão laica, é remetida para o âmbito da consciência, não é exclusivamente pragmática”, precisou.

O jornalista, com acreditação permanente na sala de imprensa da Santa Sé, recorda a este respeito as declarações de Joseph Ratzinger a respeito da beatificação do cardeal John Henry Newman (século XIX), a que o próprio Papa presidiu no Reino Unido, em setembro de 2010, abrindo uma exceção à prática de celebrar apenas cerimónias de canonização.

“O cardeal Newman é apresentado como uma espécie de herói da consciência, de alguém que responde perante Deus, em busca da verdade”, assinala, acrescentando que esta figura pode ajudar a ler a decisão do Papa como mais do que uma “decisão prática de governo”.

Na sua declaração de renúncia, Bento XVI deixou uma referência explícita a este tema: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino”.

Para o chefe de redação da Agência ECCLESIA, houve um aparente “unanimismo” na reação à decisão do Papa, de 85 anos, mas isso não impediu a existência de manifestações de “alguma reprovação” por parte de quem não entendia a possibilidade da resignação.

“É uma mudança de paradigma muito grande de que as pessoas não estavam minimamente à espera”, observa.

Apesar de o perfil reservado de Bento XVI poder fazer prever uma transição tranquila para o novo pontificado, Octávio Carmo não descarta a hipótese de surgirem problemas pelo facto de haver dois Papas vivos pela primeira vez em quase 600 anos.

“A comunidade católica é uma comunidade grande, tem muitas sensibilidades e pode haver gente que sentindo-se defraudada, triste ou insatisfeita com o próximo pontificado diga que o seu Papa é Bento XVI”, alerta.

O jornalista considera, no entanto, que esta situação seria “a última coisa” que o próprio Bento XVI desejaria após a sua resignação.

Os cardeais vão ser chamados ao Vaticano após Bento XVI ter anunciado no último dia 11 a sua decisão de renunciar ao pontificado, a partir das 20h00 (menos uma em Lisboa) do dia 28 de fevereiro.

PTE/AE

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