Bento XVI: Pontificado ousado e humilde

Jornalista Henrique Monteiro destaca o Papa «que disse que os inimigos da Igreja estão dentro e não fora» da estrutura eclesial

Lisboa, 20 fev 2013 (Ecclesia) – O jornalista Henrique Monteiro diz que o pontificado de Bento XVI, que termina dia 28 de fevereiro, fica marcado pela forma decidida como o Papa criticou a decadência dentro da Igreja e favoreceu o diálogo inter-religioso.

Em entrevista que poderá ser acompanhada este domingo no programa ’70×7′, a partir das 11h30, na RTP2, o antigo diretor do Semanário ‘Expresso’ realça “a condenação firme que Bento XVI fez dos casos de abusos sexuais e de pedofilia” praticados por membros da hierarquia católica.

“Uma coisa muito importante que disse foi que os inimigos da Igreja estão dentro e não fora, pela primeira vez um responsável católico assumiu isso”, salienta.

Para o também comentador da Rádio Renascença, outro “legado” de Joseph Ratzinger, talvez o “mais importante”, foi a forma como reforçou o diálogo dos católicos com os ortodoxos, os protestantes e outras comunidades de matriz cristã e procurou construir uma relação mais estável entre todas as religiões.

De acordo com Henrique Monteiro, o Papa “percebeu muito bem que o grande inimigo da civilização é o relativismo moral e que todas as crenças, as mais antigas e sérias, comungam desse princípio anti relativista e esse princípio deveria ser desenvolvido por todas as pessoas que creem em alguma coisa”.

“Como homem ligado à filosofia e à escola de pensamento racionalista”, Bento XVI “vai deixar esse legado e hoje em dia é muito mais claro compreender que a forma como, em muitas latitudes, e nomeadamente na Europa, estava a ser entendido o pluralismo, no sentido de tudo se equivale, numa hierarquia de valores, é uma forma de decadência que compete à Igreja e às outras religiões combaterem”, defende.

O cronista salienta ainda que, ao adotar esta posição, o Papa alemão “deu corpo teórico” a “uma preocupação antiga” mas que estava a perder força para uma outra corrente que “confunde a tolerância com a igualdade de todas as teorias, o pluralismo com o facto de todas as opiniões serem iguais”.

Numa abordagem às razões que Bento XVI invocou para abdicar do seu pontificado, a debilidade física e a falta de “forças” para responder aos desafios atuais do mundo, sublinha que elas encerram também uma mensagem extremamente importante para a sociedade.

Ao homem que se julga “no centro de tudo” e que “sabe tudo”, que já não tem “nada para descobrir”, num misto de “arrogância e falta de humildade” que ganha força nos centros da “intelectualidade”, nas “universidades e que se espalha um pouco por todo a sociedade”, Joseph Ratzinger “veio lembrar que ninguém é eterno” e todos estão sujeitos à “debilidade dos conhecimentos, dos corpos, dos intelectos”, aponta o comentador.

Henrique Monteiro crê que foi através deste espírito arguto, próprio de um intelecto “tão respeitado”, que o Papa conseguiu também encetar um diálogo com o mundo académico e científico “bastante superior ao que tinha acontecido nos últimos anos”.

“Boa parte do mundo científico e universitário estava numa trajetória de afastamento da Igreja Católica que Bento XVI conseguiu também inverter”, conclui.

PTE/JCP/OC

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