Coordenador nacional da Pastoral da Saúde recorda sobretudo a retoma dos ideais do Concílio Vaticano II e as três encíclicas escritas entre 2005 e 2009
Lisboa, 21 fev 2013 (Ecclesia) – O coordenador nacional da Pastoral da Saúde sustenta que o pontificado de Bento XVI vai “marcar para sempre a vida da Igreja”, pela sua capacidade de identificar e propor respostas para os desafios deste tempo.
Em entrevista concedida à ECCLESIA, no contexto da resignação de Bento XVI, anunciada no último dia 11, o coordenador nacional da Pastoral da Saúde destaca a “coragem” que Joseph Ratzinger teve em “revisitar o Concílio” Vaticano II (1962-1965), 50 anos depois, para levar a Igreja a assumir-se como guia de uma humanidade à procura de “um sentido novo para o seu caminho”.
De acordo com o sacerdote da Diocese de Lisboa, o Papa tinha consciência de que “em muitos aspetos, o Concílio estava por fazer, sobretudo na relação da Igreja com o mundo, abordada num dos principais documentos saídos da reunião conciliar, a constituição pastoral ‘Gaudium et Spes’ (alegria e esperança).
“O Concílio realizou-se e a dignidade humana continua a ser espezinhada no mundo contemporâneo, a comunidade humana desagrega-se, o mistério da dificuldade nas relações humanas é cada vez mais grave, por outro lado, o próprio mundo do trabalho está em grande sofrimento, só na Europa temos 27 ou 28 milhões de desempregados”, aponta o padre Feytor Pinto.
Além destes aspetos, explica aquele responsável, “o Concílio falava na reconstrução da família, e a família hoje desagrega-se”.
“A cultura atual cada vez se identifica mais com uma certa mentalidade agnóstica, no problema económico-social e os pobres aumentam cada vez mais; no mundo político, e este tem muita dificuldade em encontrar o sentido do bem comum”, prossegue.
O coordenador da ação da Igreja Católica na área da Saúde em Portugal sublinha também as três encíclicas que Bento XVI escreveu durante os seus quase oito anos de pontificado: ‘Deus Caritas est’ (Deus é amor, 2005); ‘Spe Salvi’ (Salvos na esperança, 2007) e ‘Caritas in veritate’ (Caridade na verdade, 2009).
Para o monsenhor Feytor Pinto, aqueles documentos, baseados nas “virtudes teologais” da fé, da caridade e da esperança, ficam para a posteridade como “grande referência” da obra e do pensamento deste Papa.
“O segundo é um texto fundamental, precisamente por ser o desafio da esperança numa sociedade quase em desespero, em Portugal, em toda a Europa, no mundo. Depois a importância de viver a caridade até ao fim, mas em verdade, não uma caridade de aparências, não uma caridade hipócrita, para ser conhecido e ter protagonismo, mas uma caridade humilde, de serviço, sem condições”, conclui.
Bento XVI decidiu renunciar ao pontificado, a partir das 20h00 (menos uma em Lisboa) do dia 28 de fevereiro, por causa da sua “idade avançada”, abrindo caminho à eleição de um novo Papa.
PTE/JCP