Bento XVI na linha da frente pela paz no Médio Oriente

A decisão de enviar o Cardeal Roger Etchegaray em missão de paz ao Líbano é a última de uma série de intervenções de Bento XVI relativamente ao conflito no Médio Oriente, para o qual tem procurado chamar a atenção de toda a comunidade internacional, pedindo a contribuição de todos para um cessar-fogo imediato que permita construir, posteriormente, uma paz duradoura e estável. Poucos dias após o início do conflito, na recitação do Angelus a 16 de Julho, o Papa afirmava que “as notícias da Terra Santa constituem para todos, motivos de novas e graves preocupações, em particular por causa da ampliação das acções bélicas também ao Líbano, e das numerosas vítimas entre a população civil”. A 20 de Julho, num comunicado oficial divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé, Bento XVI convocava para o Domingo, 23 de Julho, “uma jornada especial de oração e penitência” pela paz. Desde então, todas as intervenções públicas do Papa têm sido marcadas por uma grande preocupação relativamente à situação no Médio Oriente, em especial no Líbano. No último Domingo chegou mesmo a lamentar que ainda não “tivessem sido ouvidas as vozes que pediam um cessar-fogo imediato” e esta quarta-feira, na audiência geral, deixou um novo apelo em favor da paz, citando Paulo VI e João Paulo II para que se deponham as armas e prevaleça a razão, a boa vontade e a confiança entre as partes. A crise internacional que vivemos é, sem dúvida, o momento mais delicado que Bento XVI enfrenta desde o início do seu pontificado, em Abril do ano passado, com a consciência de que todas as suas palavras são, nesta altura, analisadas até ao último detalhe – sobretudo num conflito tão carregado de implicações religiosas. O Papa tem mantido uma posição firme em defesa do final da violência e reza por todas as partes, incluindo os terroristas “que não só fazem mal ao próximo, mas também a si mesmos”. Esse empenho foi reconhecido pela comunidade internacional, quando convidou o Vaticano para o papel de observador na Cimeira de Roma. Para além dos conflitos políticos ou territoriais, Bento XVI tem mostrado uma assinalável preocupação com as implicações humanitárias dos confrontos, com aqueles que sofrem sem serem culpados de nada. Para sair do complicado puzzle político, militar, cultural, religioso e ideológico da região, o Papa apelou à mobilização espiritual do mundo, procurando soluções que ultrapassem objectivos geopolíticos. Os apelos ao cessar-fogo imediato e à abertura de corredores humanitários são acompanhados de fortes afirmações em favor dos direitos de todos os povos envolvidos: soberania para os libaneses, segurança para os israelitas, liberdade para os palestinianos, todos nos seus respectivos Estados. A intervenção que melhor condensa a posição do Papa terá acontecido a 30 de Julho, antes da recitação do Angelus, quando Bento XVI afirmou a sua preocupação perante “centenas de mortos, numerosíssimos feridos, uma enorme multidão de desalojados e de refugiados, casas, cidades e infra-estruturas destruídas, enquanto nos corações de muitos parecem aumentar o ódio e o desejo de vingança”. “Estes factos demonstram claramente que não se pode restabelecer a justiça, criar uma nova ordem e instaurar uma paz autêntica, quando se recorre ao instrumento da violência”, alertava, antes de dirigir-se a todos os responsáveis desta espiral de violência, “em nome de Deus”, para que todas as partes abandonem as armas imediatamente.

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