Bento XVI lamenta «drama» de procura da felicidade onde ela não existe

Papa lança convite à relação pessoal com Deus, sublinha importância da escola católica e alerta para perspectivas redutoras da vida

“A felicidade é algo que todos queremos mas um dos grandes dramas deste mundo é haver tantas pessoas que nunca a encontram porque a procuram em lugares onde ela não está”, afirmou hoje Bento XVI.

Na alocução que dirigiu esta manhã, em Londres, a estudantes de todas as escolas católicas da Inglaterra, Escócia e País de Gales, o Papa defendeu que o sucesso e a fama não garantem a satisfação integral.

No entender de Bento XVI, “ter dinheiro torna possível ser generoso e fazer o bem no mundo, mas por si não é suficiente para nos tornar felizes”.

“Precisamos de ter a coragem de colocar as nossas esperanças mais profundas apenas em Deus, não no dinheiro, na carreira, no sucesso do mundo ou nas nossas relações com os outros, mas em Deus”, disse o Papa perante centenas de estudantes que o escutaram no relvado do campo desportivo do Colégio Saint Mary.

A desilusão provocada pelas atitudes e escolhas que oferecem uma satisfação aquém do desejado foi o argumento utilizado pelo Papa para fazer um convite à santidade.

“Espero que, entre aqueles que hoje me escutam, esteja algum dos futuros santos do século XXI”, assinalou Bento XVI, acrescentando: “O que Deus deseja mais de cada um de vós é que sejais santos.”

O Papa mostrou estar ciente de que o seu apelo poderia estar distante dos anseios dos jovens: “Talvez alguns de vós nunca tenham pensado nisto. Talvez haja quem pense que a santidade não é para ele”.

Para Bento XVI, crescer na santidade exige uma relação pessoal com Deus, que “não somente nos ama com uma profundidade e intensidade que dificilmente poderemos chegar a compreender, como ainda nos convida a responder ao seu amor”.

Os resultados desta aproximação mútua reflectem-se, segundo o Papa, numa transformação de perspectivas ao nível do pensamento e da acção.

“Quando começais a ser amigos de Deus, tudo na vida começa a mudar. À medida que o conheceis melhor, percebeis o desejo de reflectir algo da sua infinita bondade na vossa própria vida”, o que se traduz na “prática das virtudes” e num olhar mais crítico para as “armadilhas” causadoras de “profundo sofrimento”, como a “cobiça” e o “egoísmo.”

A alocução de Bento XVI debruçou-se também sobre a importância dos estabelecimentos de ensino geridos pela Igreja, que a par da transmissão de conhecimentos científicos devem proporcionar o desenvolvimento da relação pessoal com Deus, ajudando os alunos “a ser santos”.

A contribuição das escolas católicas para a sociedade ultrapassa o âmbito pessoal e religioso: além do “crescimento na amizade com Deus”, o Papa recordou que elas permitem aos alunos aprender a ser “não só bons estudantes, mas também bons cidadãos, boas pessoas”.

A ampliação dos pontos de vista dos alunos foi o ponto de partida para um alerta do Papa relativamente a concepções que reduzem a compreensão do mundo e da vida humana, surjam elas das ciências ou da religião: “Recordai sempre que quando estudais uma matéria, ela faz parte de um horizonte maior”.

“O mundo precisa de bons cientistas, mas uma perspectiva científica torna-se perigosa se ignora a dimensão religiosa e ética da vida, da mesma maneira que a religião torna-se limitada se rejeita a legítima contribuição da ciência”, frisou Bento XVI.

O aviso estendeu-se a outras áreas do conhecimento: “Necessitamos de bons historiadores, filósofos e economistas, mas se a sua contribuição para a vida humana, dentro do seu âmbito particular, se reduz demasiadamente, isso pode levar-nos por mau caminho”, disse o Papa, que deixou um apelo aos estudantes: “Não vos contenteis em ser medíocres”.

A alocução incluiu também uma saudação aos “muitos não-católicos” que estudam nas escolas geridas pela Igreja: “Rezo para que também vós vos sintais movidos à prática da virtude”, crescendo “no conhecimento e na amizade com Deus”.

Bento XVI visita o Reino Unido entre 16 e 19 de Setembro, passando pelas cidades de Edimburgo, Glasgow, Londres e Birmingham.

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Agência ECCLESIA

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