Papa foi a Turim afirmar que o pano corresponde ao relato dos Evangelhos, mas não encerra questão da autenticidade
Bento XVI prestou homenagem ao Santo Sudário, em Turim, referindo que a imagem corresponde aos relatos evangélicos sobre a morte e ressurreição de Jesus.
Na Catedral da cidade italiana, o Papa falou do Sudário como uma “tela sepulcral” que “corresponde ao que os Evangelhos dizem de Jesus, o qual, crucificado perto do meio-dia, expirou perto das três da tarde”.
“O Sudário de Turim oferece-nos a imagem de como era o seu corpo (de Jesus, ndr)”, depositado no túmulo por um período breve cronologicamente (cerca de um dia e meio”, mas que Bento XVI qualificou como “imenso, infinito no seu valor e no seu significado”.
O Papa deteve-se em oração diante do Sudário e apresentou depois uma reflexão sobre o significado do “ícone” (imagem) do sofrimento de Jesus, símbolo da “vitória da vida sobre a morte”.
“É este o poder do Sudário : do rosto deste homem das dores que leva consigo a paixão do homem de todos os tempos e lugares – incluindo as nossas paixões, sofrimentos, dificuldades e pecados – brota uma solene majestade, um domínio paradoxal… uma palavra que podemos escutar em silêncio”, disse.
Sem fechar a questão da autenticidade do pano de linho que muitos afirmam ter envolvido o corpo de Jesus Cristo após a sua crucificação, Bento XVI falou num “ícone escrito com o sangue”, mas um sangue que “fala de vida”.
“Cada marca deste sangue fala de amor e de vida, especialmente aquela mancha abundante no lado, feita de sangue e água saído copiosamente de uma grande ferida provocada por um golpe de uma lança romana – aquele sangue e aquela água falam de vida”, acrescentou.
O Vaticano nunca se pronunciou sobre a autenticidade do pano de linho de 4,36 por 1,10 metros e o Papa falou do Sudário sempre como ícone e não como relíquia.
Uma relíquia é um objecto preservado com o propósito de ser venerado religiosamente.
A reflexão de Bento XVI centrou-se sobre “o mistério do Sábado Santo”, tempo do silêncio do Deus escondido.
O Papa confessou que este era um “momento muito aguardado”, mesmo que no passado tivese visitado o Sudário, porque desta feita levava consigo “toda a Igreja, mais ainda, toda a humanidade”.
Bento XVI sublinhou que “o escondimento de Deus faz parte da espiritualidade do homem contemporâneo, de maneira existencial, quase inconsciente, como um vazio do coração que se tem vindo a alargar cada vez mais”.
O Papa citou o filósofo Nietzsche (“Deus morreu, e fomos nós que o matamos”) e disse que “após as duas Guerras Mundiais, depois dos lager e dos gulag, após Hiroshima e Nagasaki, a nossa época tornou-se cada vez mais um Sábado Santo: a obscuridade daquele dia interpela todos os que se interrogam sobre a vida, e interpela-nos de modo particular a todos nós, crentes”.
Para o Papa, o Sudário testemunha o momento “único e irrepetível na história da humanidade e do universo, em que Deus, em Jesus Cristo, partilhou não só o nosso morrer, mas também o nosso permanecer na morte”.